08 dezembro 2009

Currículo Oculto e Fazer Docente

Na minha época de estudante, quando estava na sétima série do Ensino Fundamental, escutei certa vez um professor dizer: “É ruim que vou levá-los ao programa ‘É Proibido Colar’. Vocês estão bagunçando demais. Não prestam atenção nas aulas”. A partir daquele dia, a classe inteira mudou de atitude. Todos começaram a prestar mais atenção nas aulas daquele professor e a realizar as atividades e entregar os trabalhos pedidos. Tudo isso porque todos queriam ir ao programa de televisão da TV Cultura. Afinal, o “É Proibido Colar” era um programa muito divertido que reunia música, gincanas, entrevistas. Era considerado, na escola que estudei, o sonho de consumo de todos os alunos , isso nos idos dos anos de 1980.

A atitude daquele professor pode ser citada como um exemplo de Currículo Oculto. A partir daquelas palavras quase mágicas, os alunos passaram a se dedicar aos estudos de sua matéria. As aulas ficaram mais silenciosas e os alunos realmente passaram a aprender mais.

Podemos definir Currículo Oculto como sendo “comportamentos, atitudes, valores, orientações, que tem como intenção fazer com que as crianças e jovens se ajustem a determinados padrões de comportamento levando ao conformismo, a obediência e ao individualismo” [1] . Por outro lado, a prática do Currículo Oculto pode ser vista de forma positiva também. Para Josefa Sônia Pereira da Fonseca, doutoranda em Educação, “sua prática se dá pela percepção que o professor desenvolve no exercício de sua profissão de que é preciso atingir com precisão o seu objetivo (...), além das fronteiras das metodologias, formas próprias para alcançar a aprendizagem de seus alunos marcando-os não apenas o seu intelecto mas, sobretudo a sua afetividade” [2].

Fonseca realizou um estudo, onde mostrou que alunos cujo professor de matemática, no ensino fundamental, conseguia despertar no aluno a criatividade, a espontaneidade e o respeito, obtiveram maior sucesso na aprendizagem dos alunos, inclusive no prosseguimento dos estudos, já a nível universitário.

No dia a dia do fazer docente percebemos nitidamente o uso do Currículo Oculto: Professores que deixam os alunos chupar balas em aula, mesmo sendo proibido pelas regras da escola; Professores mais rígidos com seus alunos que ameaçam suspender as aulas de educação física caso a turma não realize as atividades propostas; Professores que conversam e tentam entender os problemas pessoais e familiares de cada aluno, aproximando-se deles e relevando certas dificuldades pontuais em beneficio da turma inteira; Professores que conseguem mostrar ao aluno a importância da dedicação, deixando claro que muitas vezes os resultados não são imediatos, mas acontecem em longo prazo, como, por exemplo, ser premiado no Concurso Regional de Matemática, ou participar de uma exposição, como monitor, no principal centro de convenções de sua cidade.

Os exemplos citados acima mostram que existe uma série infinita de relações entre alunos e professores onde o currículo oculto este embutido. Para Catarina Iavelberg, especialista em psicologia da educação, as ações, dentro da perspectiva do currículo oculto, só serão eficazes “quando contribuírem para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem” [3].



[1]- Apostila da disciplina Currículo: Teoria e Prática, pg. 61.

[2]- FONSECA, Josefa S. P. A PRÁTICA DO CURRÍCULO OCULTO NAS AULAS DE MATEMÁTICA NA ESCOLA FUNDAMENTAL E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DO ADMINISTRADOR: UMA PESQUISA EXPLORATÓRIA. Disponível em: http://www.spce.org.pt/sem/Montegordo/15XV.pdf . Acesso em: 25/10/09.

[3]- IAVELBERG, Catariana. CURRÍCULO OCULTO. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/orientador-educacional/curriculo-oculto-448775.shtml. Acesso em: 25/10/09.
Filosofar: Base de uma Educação de Qualidade

Segundo Antonio Gramsci em toda atividade humana está contida uma concepção de mundo e se todos têm uma concepção de mundo, todos filosofam, mesmo que isto ocorra de forma inconsciente. Em outras palavras, todo ser humano é filósofo, uma vez que todos pensam ou podem pensar o mundo de forma particular, quase que única. Porém, esse pensar o mundo não se limita sempre a ter idéias próprias, muitas vezes, a concepção de mundo está intimamente ligada ao que os outros pensam, ou seja, uma concepção de mundo imposta. Para Gramsci essa postura deve ser evitada e todos deveriam elaborar sua própria concepção de mundo. Neste ínterim aparece a afirmação de que a filosofia é algo difícil, quando as pessoas param de pensar por conta própria e passam a incorporar idéias impostas por outrem e passam a viver a vida como se todas estas idéias fossem verdadeiras, elas se sentem, muitas vezes, incapazes de pensar por conta própria, desconfiando, inclusive, de suas próprias idéias. Daí acreditar que filosofar é uma atividade intelectual que deve ser feita apenas por cientistas profissionais.

As idéias de Gramsci vêm complementar os pensamentos propostos por John Dewey em sua concepção de educação. Para Dewey, a educação deve ser vista como um processo onde se busca formar disposições fundamentais, intelectuais e emocionais nos seres humanos em relação à natureza e aos outros seres humanos. Assim sendo a filosofia seria ou deveria ser a teoria geral da educação.

Ao se acreditar que, com a educação, pode-se desenvolver nas pessoas formas fundamentais de pensar e agir, bases intelectuais reflexivas, o aperfeiçoamento cognitivo, certamente que se está desenvolvendo nelas uma forma particular de ver o mundo. Ou seja, nesta visão, a educação contribui para desenvolver nas pessoas uma concepção de mundo. E se isto ocorre, é porque dentro de todo esse processo intelectual, cognitivo e emocional, os atributos da filosofia estão sendo utilizados.

Em sala de aula, quando professores trabalham seus conteúdos de forma reflexiva e crítica, certamente que estarão utilizando o método filosófico. Portanto, dentro da perspectiva da educação, é em sala de aula que se pode nitidamente perceber a função da filosofia. Ao se refletir sobre as condutas morais e intelectuais nas diversas situações que o ser humano perpassa, a filosofia está sendo feita.

Portanto, concordo com a visão de Dewey quando afirma que a filosofia pode ser definida como a teoria geral da educação, as pessoas aprendem de fato, quando refletem, quando contrapõem opiniões e visões de um mesmo assunto e, sobretudo, quando chegam às suas próprias conclusões. Portanto, a filosofia pode ser considerada como a mola mestra da educação, com ela é que é possível se fazer uma educação de qualidade, melhorando o aprendizado dos alunos e contribuindo para a formação de cidadãos críticos e que tenham uma postura mais participativa em nossa sociedade.
Mérito ou politização: Para onde vai a qualidade dos serviços em Educação?

Ricardo Navia, professor doutor da Universidad de La República, de Montevidéu no Uruguai, critica a estrutura educativa das escolas em dois pontos importantes: em primeiro lugar, quanto ao poder de decisão que os chamados funcionários políticos possuem em detrimento dos docentes e supervisores de carreira, sendo aqueles mais sensíveis às pressões do poder em detrimento destes. Num segundo momento, chama a atenção para a existência de uma distorção da carreira docente, na medida em que os altos cargos de supervisão e planejamento não são ocupados através de concurso de méritos intelectuais, mas sim por planos impostos ou pelos chamados “méritos administrativos”.

Para Navia, que é doutor em filosofia da educação, os chamados funcionários políticos estariam ocupando cargos mais altos exatamente porque são mais sensíveis às pressões do poder, ou seja, seguem à risca determinações impostas por quem tem o poder político e, assim, acabam conseguindo benefícios e ocupando cargos mais elevados, em detrimento dos funcionários de carreira que estariam mais voltados para os interesses das comunidades escolares e, portanto, não se deixariam levar com tanta ênfase pelas pressões políticas.

Por outro lado, quando um cargo é ocupado por motivos políticos e não por méritos intelectuais, a tendência é encontrar funcionários que se preocupam em agradar quem esta no poder e não fazer o seu serviço visando melhorias em prol da qualidade da educação. Ou seja, atende-se ao interesse de uma minoria que detém o poder e se esquece das necessidades de quem faz uso do sistema educativo em busca de qualidade. Portanto a politização dos cargos na área da educação pode levar à queda na qualidade dos serviços oferecidos e conseqüentemente uma queda na qualidade da educação.

Sob meu ponto de vista, é necessário que a estrutura educativa seja repensada e em muitos casos, modificada. Os cargos em educação não podem ser ocupados apenas por questões políticas, é necessário que haja uma abertura para a contratação de funcionários por méritos intelectuais e que tenham a preocupação em oferecer serviços de qualidade sempre buscando a melhoria da educação. A politização dos cargos em educação é preocupante, sobretudo porque seu objetivo final é beneficiar uma pequena parcela de pessoas em detrimento do interesse da maioria.
Educação no Brasil: Ensino Elitizado e sua Universalização

Em seu artigo “As Origens da Educação no Brasil – Da hegemonia católica às primeiras tentativas de organização do ensino”, Marcos Marques de Oliveira, doutorando em Educação, ensina-nos que a educação no Brasil sempre esteve voltada para o ensino das elites em detrimento da universalização do ensino popular. No período da economia agroexportadora, a educação voltou-se para a formação da elite, visando prepará-los para exercer profissões liberais e atividades político-burocráticas. Na passagem para o modelo econômico urbano-industrial, que culmina com a Revolução de 1930, as classes média e popular passam a reivindicar uma organização de um sistema nacional de ensino.

Desta forma, a escolarização passa a ter destaque na dinâmica dos conflitos sociais. A então progressiva organização da estrutura educacional brasileira passa por três momentos marcantes: expansão da demanda social (Primeira República), as reformas Francisco Campos e Gustavo Capanema e a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional em 1961.

Apesar do incremento da presença das camadas populares dentro da escola nos momentos citados anteriormente, é somente durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990, que o ensino fundamental passa, de fato, a ser estimulado e ampliado. Neste momento que, efetivamente, as camadas mais pobres passam a freqüentar as salas de aula e nelas permanecer. Porém, o grande desafio que permanece até os dias de hoje, além da inclusão das camadas mais pobres nas escolas, está na melhoria da qualidade dos serviços prestados, ou seja, não basta mais que as camadas populares estejam na escola e permaneçam nelas, faz-se necessário agora melhorar a qualidade de ensino e, sobretudo, é preciso que os alunos realmente aprendam. Com a melhoria no quadro sociocultural de nossa população como um todo, poderemos assim construir cada vez mais uma nação mais justa, produtiva e democrática.

08 novembro 2009

Indisciplina: Cuidados para não cometer injustiças

Era a última aula de uma sexta-feira chuvosa. Muitos alunos bagunçaram o tempo todo. Não fizeram a lição. A metade da turma que tentava escutar a explicação da professora era atrapalhada pelos que conversavam. Vários papeizinhos voaram em direção à lousa. 
 
[1] Indisciplina: como se resolve? In Revista Nova Escola, outubro de 2009. Editora Abril, pag.88.

26 outubro 2009

A Importância de Escrever Bem

Gostaria de iniciar as respostas das questões propostas pela professora, pensando exatamente no contrário, ou seja, pensando nas pessoas que hoje em dia não sabem ler nem escrever. Estas pessoas acabam se tornando limitadas na situações cotidianas. Em alguns casos, precisam acreditar fielmente no que escutam na rádio ou na TV ou, ainda pior, apenas no que os outros dizem para ela. São incapazes de descobrir outros pontos de vista sobre um mesmo assunto, pois não terão oportunidade de ler revistas ou jornais com linhas de pensamentos diferentes. Portanto, acabam se tornando pessoas muito mais manipuláveis e isso é um perigo.

Segundo Paulo Freire, os atos de ler e escrever estão extremamente entrelaçados e, portanto não devem ser separados, como se fossem coisas independentes. Como compartilho desta mesma linha de raciocínio, acredito que as mesmas pessoas citadas no parágrafo anterior se tornam extremamente limitadas para o exercício da cidadania, sobretudo, nos dias atuais onde diversos documentos que servem como provas para diversas situações e assuntos são utilizados corriqueiramente. Essas pessoas se tornam extremamente dependentes de outras e, portanto, acabam dependendo de vontades alheias à elas. Dessa forma, saber escrever bem é pré-requisito hoje em dia, para o efetivo uso da cidadania. Para termos cidadãos menos manipuláveis, mais críticos e antenados com a realidade atual, é de fato necessário que as pessoas desenvolvam muito bem suas competências leitora e escritora.

Agora, no mês de novembro que se aproxima, os alunos da rede estadual de ensino estarão realizando uma avaliação denominada Saresp, onde dentre outras provas, os alunos farão uma redação. Para a correção desta prova, os professores levarão em conta dois itens muito importantes: a gramática e a coesão/coerência. Dentro do sistema estadual de ensino do estado de São Paulo, tanto gramática quanto coesão/coerência são consideradas habilidades importantes para uma boa redação. Ou seja, para saber se expressar bem são necessários tanto dominar bem as normas gramaticais vigentes quanto ter coesão/coerência com aquilo que se está escrevendo.

Utilizar bem as normas gramaticais é importante para poder expressar de forma escrita exatamente aquilo que se pensa, aquilo que se quer dizer. O mau uso das normas gramaticais pode levar a quem escreve, afirmar coisas que não eram exatamente o que pensam, ou até mesmo, dizer o contrário do que queriam dizer. Da mesma forma, ter coerência e coesão com o que se escreve, são habilidades obrigatórias para se expressar bem, não fugindo do assunto e não correr o risco de falar, falar e falar e não dizer nada.

Para escrever realmente bem, é necessário que as pessoas conheçam os diferentes tipos de gêneros textuais existentes. Cada situação requer um formato de escrita. Uma carta pessoal é diferente de um artigo de opinião. Escrever instruções técnicas para o uso de um aparelho eletrônico é diferente de escrever um texto argumentativo numa seção de uma revista. Portanto, hoje em dia, é de suma importância que as pessoas conheçam os diferentes gêneros textuais para saber qual utilizar conforme a situação que lhe aparece.

Finalizando, podemos concluir que escrever bem não é um ato simples hoje em dia. Requer domínio das normas gramaticais, precisa ter coerência/coesão naquilo que se escreve e é necessário que se escreva num formato apropriado (gênero textual). Não é à toa que levamos, pelo menos, 12 anos para concluir o Ensino Básico, desde o primeiro ano do Ensino Fundamental até 3º ano do Ensino Médio, aprendendo desde as primeiras letras até escrever um texto argumentativo com proposição.

25 outubro 2009

Ética: Virtude de uma Comunidade Escolar Feliz


Progressão Continuada, falta de tempo para os pais acompanharem o rendimento dos seus filhos e professores que trabalham nos três turnos para garantir o sustento de suas famílias são problemas comuns à carreira da maioria dos profissionais docentes. Conjugados, esses problemas desencadeiam uma série de tomadas de decisões no dia a dia do professor que desgastados ou sob pressão de interesses sejam políticos ou econômicos acabam abrindo espaço para a postura não ética no cotidiano escolar.

Podemos definir ética como uma reflexão sobre a moral e os bons costumes, que busca numa situação limite a justiça e a harmonia entre os homens. Moral, por sua vez, pode ser considerada uma série de normas de conduta que, de forma prescritiva, dita o comportamento do homem em relação aos seus costumes, hábitos e usos. No cotidiano escolar, assim como na convivência social como um todo, as pessoas estão sujeitas às regras morais do grupo que pertencem, porém com tantos problemas que envolvem a carreira docente e a falta de tempo para uma reflexão mais atenta destes problemas, os profissionais da educação correm o risco de dar créditos à falta de ética na resolução dos problemas escolares cotidianos.

Vejamos algumas situações práticas: passar ou não passar de ano um aluno que não fez nada o ano inteiro, apenas brincou e causou uma série de problemas disciplinares, atrapalhando, inclusive, o próprio desempenho de seus colegas? Deve-se seguir, puramente, o sistema da progressão continuada neste caso, levando se em consideração que tal sistema é ditado por uma instância superior no caso da rede pública estadual de ensino do Estado de São Paulo e correr o risco deste mesmo aluno vir ainda pior no ano seguinte? Este mesmo aluno merece estar na série subseqüente, mesmo que sua família não se importe com seus rendimentos escolares, não acompanhe as reuniões de pais e não resolva ou não tenta resolver os problemas que lhe são particulares? O professor, desgastado profissionalmente e trabalhando muitas vezes em até três turnos, precisará “engolir” este mesmo aluno na turma do ano posterior, sentindo-se cada vez menos valorizado quanto profissional que o é?

Responder essas questões, de forma clara e reflexiva, é fundamental para que o trabalho docente continue sendo realizado de forma ética, levando-se em consideração os anseios da comunidade da qual este profissional faz parte. O professor, antes de tudo, deve ser sempre um profissional crítico e reflexivo, que busque entender as demandas sociais, políticas e econômicas de sua época e contribuir para construir uma sociedade mais justa. Claro que deve pensar em seus interesses pessoais, mas deve também pensar nos interesses de seu seguimento profissional e, sobretudo, nos interesses da comunidade escolar da qual faz parte. Entendendo estas diversas escalas da qual faz parte e refletindo de forma ética poderá encontrar soluções em conjunto com os outros professores e gestores da escola e assim conseguir um dia a dia mais harmônico em sua escola.

Sabemos que existe toda uma racionalidade burocrática por detrás do trabalho que o professor exerce, porém, agindo de forma ética e levando-se em consideração as reais necessidades da comunidade escolar da qual faz parte, o professor poderá encontrar soluções para boa parte dos problemas que cercam o fazer docente. Desta forma, tomando decisões assertivas, contribuirá para tornar a comunidade escolar, da qual faz parte, mais feliz. Existindo prazer e felicidade certamente a ética estará presente dentro do grupo da qual faz parte.

01 outubro 2009

O Processo de Evolução das Palavras

Segundo Aldo Bizzocchi, doutor em lingüística, a evolução das palavras pode acontecer por uma série de fatores, tais como: a inovação lingüística, também chamada de mutação; o principio da analogia; o processo de seleção cultural (inovação que é aceita ou não); a deriva lingüística (agente externo muda arbitrariamente o sentindo da palavra, como os falantes de prestigio) e, finalmente, a difusão das novas formas, podendo ser cultural (contágio entre populações vizinhas) ou dêmica (falantes que migram para diferentes regiões lingüísticas).

O professor de Língua Portuguesa, Hélio Consolaro, em seu site “Por trás das letras” nos explica que as palavras da língua portuguesa possuem diversas origens: do latim vulgar (latim levado pelos soldados romanos às terras conquistadas, como: barro, louça, mantega); do latim escrito usado pela igreja católica (palavras eruditas: lácteo, fascículo, celeste); de outras línguas, quase sempre neolatinas (como amistoso que está ligada à palavra em castelhano amistad); das invasões estrangeiras na Península Ibérica – visigodos no século V (bando, guerra, trégua) e árabes entre os séculos VII e XV (alface, cifra, faquir); do processo de imigração para o Brasil – negros (acarajé, dengue), italianos, japoneses, entre outros; e da influencia cultural francesa sobre a intelectualidade brasileira (omelete, tricô, chique).

Em seu site, Consolaro cita a evolução de algumas palavras, a partir dos estudos de Adriano da Gama Kury, livre docente da Universidade Federal Fluminense. Dentre elas, podemos citar a palavra “libertino”, que significava, num primeiro momento, “filho de escravo liberto” e que, com o tempo, passou a ter sentido de “libertados dos preceitos da moral e da religião” ou, por conseguinte, “devasso, imoral, despudorado, dissoluto”.

Outra palavra cunhada por Kury e citada por Consolaro é “vilão”. A princípio esta palavra designava “o aldeão, o habitante da vila”. Posteriormente passou a significar “homem grosseiro, perverso, infame”. Kury explica que essa transformação deu-se possivelmente por associação à palavra “vil” e nos esclarece que sob a visão dos “aristocratas, dos nobres, dos homens da cidade”, os homens da vila, da aldeia, do campo são “grosseiros, capazes de praticar ações vis”.

Dessa forma pode-se entender o porquê das palavras mudarem de significado ao longo do tempo. Muitas vezes a origem da palavra é uma, porém o seu uso cotidiano pode levá-lo a uma transformação, ganhando significados diferentes do seu termo original. Palavras como “vilão” e “libertino” que simplesmente designavam algumas características de certas pessoas, hoje possuem sentidos totalmente diferente, pejorativos.


Fontes:

http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=curiosidades/docs/origemdaspalavras - Acesso em 03/10/2009.

http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11466 – Acesso em 03/10/2009.

13 setembro 2009

Currículo: Origem e Conceituação

Antes de tudo gostaria de dizer que as primeiras aulas da disciplina "Currículo: Teoria e Prática" foram ao mesmo tempo muito interessantes, porém extremamente difíceis de entender. A leitura atenta sobre as origens da palavra currículo fez elucidar melhor o conceito à seu respeito permitindo entender sua relação com a noção de discurso e de teoria.

A origem da palavra currículo remonta os séculos XVI e XVII, originalmente curriculum, significando um "curso de vários anos feito por cada estudante" e também "algo que deve ser seguido e concluído". No Brasil a palavra curriculum torna-se "currículo" sendo entendido também como um "documento que relata a trajetória educacional e/ou acadêmica e as experiências profissionais de uma pessoa".

Já no século XX o conceito de curriculum vai sendo aperfeiçoado podendo ser entendido como "processo de racionalizar os resultados educacionais rigorosamente medidos". A educação passa a seguir o modelo das fábricas onde "o sistema educacional deveria ser tão eficiente quanto qualquer empresa". Ou seja, neste momento, percebe-se nitidamente uma intencionalidade, um discurso a respeito do conceito da palavra currículo que estaria voltado para os interesses do mercado capitalista. Daí muitos autores preferirem falar sobre o discurso do currículo e não da teoria do currículo, pois a teoria seria apenas a descrição de algo que já existiria, já o discurso é carregado de pontos de vista e de intencionalidade, é algo inventado, que não existia anteriormente. Esta é exatamente a idéia dos autores do chamado pós-estruturalismo que possuem uma visão crítica a respeito do conceito abordado aqui.

Continuando sob a perspectiva do discurso sobre a palavra currículo, podemos afirmar que trata-se da "formação de determinado tipo de sujeito", buscando "modificar as pessoas" e finalmente chegar na "pessoa considerada ideal". Por isso que o currículo é a própria identidade de uma escola, de um curso, de uma instituição de ensino, pois é idealizado, ou deveria ser, pelo grupo de pessoas que administra esta instituição e que possuem formas de ver a realidade, possuem crenças, possuem métodos pedagógicos que acreditam serem as mais corretas. É algo praticamente imposto por este grupo de pessoas (gestores de determinada instituição) exatamente porque busca a formação da pessoa ideal sob a visão deste mesmo grupo.

Finalizando, como os tempos mudam, os comportamentos se transformam, a pessoa considerada ideal para cada época também muda. Se antigamente buscava-se uma pessoa que seguia à risca as regras impostas pelas fábricas, ou seja, uma pessoa metódica e que fazia suas atividades de forma mecânica e repetitiva, hoje se procura uma pessoa capaz de se adaptar a diferentes realidades, capaz que saber agir e pensar num mundo em constante e rápida evolução. Dessa forma, o currículo de hoje é diferente do currículo de ontem. Esse talvez seja o grande fascínio que o currículo possui, ou seja, estar em constante movimento.

Obs: Todas as citações feitas foram retiradas dos textos das aulas da disciplina "Currículo: Teoria e Prática".

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O currículo determina a identidade de um grupo. Por isso que gostei da visão pós-estruturalista mostrada em nossas aulas.

Só tenho dúvidas se realmente cada escola elabora seu currículo de forma flexível. Muitas vezes tenho a impressão de que o currículo é imposto, mas os professores acabam flexibilizando no seu dia a dia docente.

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Realmente concordo que a "educação seja uma preparação para a vida". Porém, essa educação está repleta de intencionalidades e essas intenções são colocadas a partir do currículo.
É necessário que os professores participem cada vez mais da elaboração dos currículos de forma ativa. Ou seja, pensando no cidadão que querem formar e não apenas aceitando as imposições de pequenos grupos dentro da escola.

Apesar de que, também tem o outro lado da moeda. O professor pode muito bem, em seu dia a dia, re-elaborar na prática a formação de seus alunos, não seguindo ou seguindo pouco do currículo que a escola lhe impõe.

Este talvez seja uma das principais críticas ao currículo. Ou seja, quem garante que ele vai ser seguido à risca? Afinal, cada professor possui sua história e trajetória de vida, suas crenças particulares e elas não são deixadas de lado durante sua prática docente.

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Em minha opinião o currículo deve ter flexibilidade durante a sua concepção e também permitir determinadas mudanças em sua trajetória de execução. Porém, ele não pode ficar sendo mudado a todo instante, porque senão fica uma coisa caótica e gestores e professores acabam ficando sem norte, sem saber para onde seguir.

Portanto, o currículo de uma instituição, em sua base central, deve ser imutável, pelo menos, para determinado período, que pode ser, por exemplo, de quatro anos no Ciclo II do Ensino Fundamental. Depois de transcorrido o período, ele poderá ser reavaliado e modificado nos aspectos que não estão indo muito bem.


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O conceito de currículo que você colocou é exatamente aquele que está mais em voga nos dias de hoje, sobretudo nas escolas estaduais. Essa fundamentação das práticas pedagógicas que devem partir da realidade do aluno, visando a aprendizagem a partir do conhecimento que o ele já possui parece ser a mais acertada nos dias de hoje.
Realmente interessante essa discussão sobre Currículo, pois permite enxergarmos a realidade atual de forma muito clara.

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Estou achando muito interessante essa discussão sobre seguir à risca o currículo ou inserir novas práticas.

Cada hora estou pendendo para um lado (risos), porém, acredito que ao exercitar a nossa reflexão, poderemos chegar a uma conclusão mais plausível.

Agora, se cada professor ir inserindo novas práticas e fugindo da essência do currículo, a coisa vai virar um samba do crioulo doído. Portanto, vejo também necessário que se siga a proposta (o currículo) de forma coletiva e disciplinada. Afinal, o currículo faz parte de um sistema de ensino e que possui uma intencionalidade e se cada um fizer o que quer os objetivos centrais não serão alcançados.

No caso da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo, estamos implementando uma proposta curricular baseada em "situações de aprendizagem" para o desenvolvimento de "habilidades e competências", que estão centradas, nas competências leitoras, escritora e cálculos matemáticos.

Claro que cada professor poderá inserir práticas docentes que deram certo em sua trajetória docente, porém, ele precisa desenvolver as habilidades e competências que são ditadas pela proposta curricular do estado. Ele precisar estar focado sempre nessas habilidades e competências porque senão os alunos não conseguirão aprender o que realmente precisam aprender.


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O currículo é de suma importância para a escola. É um parâmetro a ser seguido. Muitos professores precisam aprender a segui-lo e a percebê-lo como algo que vem lhe ajudar.

Claro que com tantos afazeres fica difícil você seguir à risca tudo o que pé pedido. o professor precisa de melhores salários para ter mais tempo de se dedicar a uma única instituição e poder preparar melhor suas aulas.

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Nossa professora! Esse questionamento que você colocou citando TomazTadeu da Silva é mesmo de fundir a cuca (risos).

Eu acredito que (nestes momentos ainda iniciais de reflexão sobre currículo, uma vez que o curso ainda está começando) a frase dele esteja correta: "Quando discutimos as questões curriculares pensamos apenas em conhecimento, esquecendo de que é o próprio conhecimento que constrói o currículo."

Vou colocar um exemplo muito prático. Hoje em dia sabemos que os professores efetivos de uma escola e que já trabalham há vários anos na mesma instituição são mais compromissados e garantem um rendimento melhor dos alunos, uma vez que passam a conhecê-los melhor. Essa constatação é feita pela própria experiência de determinado corpo gestor de determinada escola.

Na elaboração da grade curricular com o total de aulas semanais em cada disciplina, os gestores deveriam, portanto, privilegiar os professores da casa, procurando atender primeiro às suas necessidades quanto ao total de aulas que cada um terá no ano subseqüente. Essa é uma forma de "segurar" os professores titulares de cargo e garantir melhores aulas para os alunos da comunidade à qual a escola pertence.

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Agora me veio outra dúvida.

A diferença entre currículo e Projeto Político Pedagógico.
Seguindo o Sistema de Ensino implantado pela Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo, no ano passado, percebo que o currículo é uma coisa maior, que abrange todo o estado de São Paulo e portanto menos flexível.

Já o Projeto Político Pedagógico varia de escola para escola, refletindo melhor a realidade das comunidades, seus valores e identidade.

Não sei se o Projeto Político Pedagógico poderia ser considerado o currículo individual de cada escola. Será que a professora poderia nos elucidar?

11 julho 2009

Preservação da história

Além de atuar junto à comunidade em apoio às reivindicações de todos, a EE Barnabé faz questão de preservar a memória do bairro. O edifício é tombado pelo patrimônio histórico e a sala da diretora pode ser considerada um museu. Um projeto coordenado pelo professor de Geografia Marcelo Hideki Suwabe colocou as turmas do 6º ano do Ensino Fundamental ao 1º ano do Ensino Médio para ajudar na restauração do acervo.



É possível encontrar documentos do início do século (como livros de ponto, de matrícula, boletins, livros pedagógicos e fotos) e objetos usados na época da Revolução Constitucionalista (o prédio serviu de quartel), como capacetes e medalhas de ex-combatentes. Suwabe, especialista em patrimônio histórico, orientou todas as ações e teve o apoio de profissionais do Centro de Memória da Fundação Bunge, que ministraram palestras técnicas para os estudantes. O trabalho começou com a higienização dos materiais. Depois da limpeza, foi feita a classificação e organização dos itens com base num inventário já existente. Os que ainda não estavam na lista foram incluídos.

Com tudo organizado, hoje é possível conhecer um pouco sobre a história da região. Os alunos chegaram a montar uma exposição durante o encontro num centro de convenções de Santos. Alguns deles vestiram uniformes antigos para monitorar as visitas e explicar a origem e a história dos objetos. Outros ajudavam os visitantes a consultar o nome de parentes nos livros de matrícula. "Conhecer o passado os ajuda a valorizar a escola e a se identificar com ela, cuidando da aprendizagem do passado e do presente", conta o professor, que atualmente atua como coordenador pedagógico.



Publicado em: Revista Nova Escola - Gestão Escolar, nº 2, junho/julho de 2009


Portas abertas para o bairro

Escola no litoral paulista cuida da aprendizagem dos alunos e dos problemas da comunidade.

Nem o antigo prédio da escola escapou da deterioração. Mas hoje ele se destaca na paisagem. E não apenas pela arquitetura, novamente preservada, mas também por abrigar a EE Barnabé, uma referência de ensino de qualidade na Baixada Santista. O mérito? Da gestão escolar, que soube manter um bom relacionamento com o entorno (leia no quadro abaixo as ações para aproximar a escola com o bairro).


Reportagem completa: http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/diretor/portas-abertas-bairro-476130.shtml

05 julho 2009

Realidade Social e Desenvolvimento Tecnológico

O filme Minority Report mostra as ações do Departamento de Pré-Crime, nos Estados Unidos, que em pleno ano de 2054 faz uso das tecnologias vigentes para impedir que assassinatos sejam cometidos. Os chamados pré-cogs antevêem um crime de forma mediúnica e, através das imagens formadas em seu cérebro, agentes da polícia identificam o local do crime, chegando a tempo de impedir que ele ocorra. Na dinâmica desse mundo futurista, as pessoas são reconhecidas através de scanneres oculares que cruzam informações até chegar à identidade de cada cidadão. O desenvolvimento tecnológico permite uma vida extremamente dinâmica, onde os deslocamentos são feitos de forma rápida e as propagadas interagem de forma pessoal com o seu alvo.

Na contra-mão desse mundo “perfeito”, existe toda uma máfia que busca burlar o sistema. Clínicas clandestinas fazem operações de mudanças de olhos para impedir que criminosos sejam identificados. Em locais periféricos, populações de baixa renda são quase que excluídos do sistema, porém, apesar de segregados pelo menor poder de consumo, estão menos sujeitos à vigilância constante.

Ao analisarmos a realidade mostrada no filme, não podemos deixar de fazer uma reflexão sobre a nossa própria realidade e, particularmente, como estudante de pedagogia é preciso associar desenvolvimento tecnológico, processo de ensino-aprendizagem e realidade social. Para atuar como cidadão em qualquer sociedade é necessário que as pessoas conheçam e façam uso das tecnologias vigentes. Portanto, como afirma Isabel Rodriguez, as teorias educacionais devem estar focadas na “construção de ambientes de ensino-aprendizado, apropriados aos tempos velozes e impermanentes”. É preciso formar cidadãos que saibam interagir com as tecnologias e sociedade de cada época. Nesta perspectiva, algumas questões podem ser levantadas nos dias de hoje: Como democratizar o conhecimento? Como levar a inclusão social/digital a todos? Como superar as desigualdades sociais?
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BIBLIOGRAFIA

- RODRIGUEZ, Isabel. Teorias: Aspectos Teóricos e Filosóficos. Postado em: http://www.abed.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserActiveTemplate=1por &infoid=1066&sid=69, acessado em 25/07/2006.

07 junho 2009

Reflexões à partir de Maria Montessori

(Atividade) " A professora não pode só ensinar . Ela deve saber ver dentro da alma , para ajudar a criança no seu desenvolvimento . Ela deve formar a personalidade, não só pelo ensino, mas falando à sua alma ,ao seu espírito , à sua inteligência , com compreensão ,humildade e respeito. Esta compreensão não pode sair senão de um espírito eleito ,refinado , que saiba aprofundar os problemas da humanidade. " (Maria Montessori - Revista Memória da pedagogia- n.3)


Maria Montessori revolucionou a educação no mundo , trazendo um outro olhar para a criança. Também o papel do educador muda , pois ela o vê como uma referência, um modelo na educação da criança, o que exige dele uma auto-análise constante de sua atuação em sala de aula. Como você acha que seria possível fazer esse exercício diário ,levando em conta os prazos, horários e pressões da vida moderna? Como o professor pode buscar esse auto-conhecimento , tão importante para sua formação ?


(Opinando 1): Na minha opinião "amar a sua profissão" é um processo construído ao longo do tempo. Confesso que inicialmente eu não gostava muito de lecionar, lidar com crianças e adolescentes. Hoje, quando percebo alguns resultados positivos que foram sendo conquistados ao longo do tempo, vejo o quão prazerosa é a nossa profissão. Quanto mais vamos atuando, mais vamos sentindo o gostinho bom de gostar de educar, mais seguros vamos ficando, melhor vamos direcionando nossas ações e, conseqüêntemente, nossa auto-estima se eleva e, assim, passamos a amar o que fazemos.

(Opinando 2): Precisamos sempre abrir um espaço em nossas aulas para essa troca de afeto e experiências, corrigir posturas e orientar sobre boas maneiras. Acredito que, com a experiência, esta forma de agir se torna praticamente parte da aula.

Porém, em casos extremos, podemos parar completamente o assunto que estivermos trabalhando e dialogar sobre questões como indisciplina, problemas familiares, financeiros, entre outros. Nem sempre o conteúdo da aula é o mais importante em dado momento e abrindo esses espaços para discussão poderemos ganhar a confiança dos alunos que passarão a ser mais participativos.

Afinal, em tese, o aluno precisa confiar "cegamente" que o conteúdo que estamos passando é verdadeiro. Se tivermos de antemão a confiança dele, meio caminho estará andando.

(Opinando 3): Sabe que certa vez participei de uma atividade com vários coordenadores pedagógicos, sendo que em meu grupo ficou uma coordenadora que já trabalhava há anos com crianças excepcionais.

A atividade consistia em identificarmos uma criança em cada escola, que trazia algum problema grave, sobretudo de indisciplina e procurar caracterizá-la, sobre seus medos, seus anseios, suas necessidades. Ao comparamos as respostas sobre as crianças "normais" com as excepcionais, percebemos que as respostas eram sempre muito parecidas: os mesmos medos, os mesmos anseios, as mesmas necessidades. O que variava era a forma de cada uma demonstrar cada uma dessas características.

Fiquei surpreso com o resultado final. Nosso grupo concluiu que definitivamente somos todos iguais. Temos perspectivas e medos semelhantes. Talves apenas mude o ritmo de cada um. O ritmo cognitivo e de amadurecimento emocional podem ser desigual, porém, como seres humanos, percebemos que crianças excepcionais se igualando a todas as outras. Afinal, todos somos seres humanos.

(Opinando 4): Eu particularmente, penso da seguinte forma. Não é fácil cuidar da educação dessas crianças que chegam extremamente "chucras" em nossas mãos. E queiramos ou não a realidade é essa. Sobra para a gente educar mesmo. A gente pode cruzar os braços e reclamar, apontar os defeitos. Ou então, arregaçarmos as mangas e irmos em frente, ou seja, enfrentarmos o desafio de educar esses meninos e meninas que chegam até a gente todos os anos tão desamparadas, tão sofridas e tão rudes.

Não é fácil não. A briga é feia. Muitas vezes, nos casos extremos, temos que ser autoritários mesmo. Darmos broncas, sermões, "chacoalhar" essa molecada. Transformar água em vinho, literalmente. Depois do tratamento de "choque" é que podemos trabalhar a parte cognitiva, de entendimento sobre o que é educação.

Não sei como vocês costumam enfrentar tudo isso. Sei que é muito difícil. É uma luta inglória, mas que a médio e longo prazo dão resultados sim. Pois, com o tempo, você consegue se aproximar deles e, finalmente, chegar à sua alma. Entender os problemas e buscar minimizá-los.

Agora, definitivamente, muitos pais não estão nem aí mesmo. Sobra para a gente mesmo. Já escutei a seguinte fala: "Esses pais são todos uns folgados, eles não dão jeito em seus filhos e querem que a gente dê".

E vou ser sincero, em muitos casos a gente até consegue. Mas é uma luta muito difícil. Em outros momentos, a gente percebe que não tem jeito mesmo e deixa que a própria vida vai se encarregar do futuro deles.

(Opinando 5): Gostaria de responder essa atividade relatando um caso que aconteceu essa semana comigo.

A mãe de uma aluna de 5ª série (6º ano) veio conversar comigo preocupada com a filha que esteve faltando na escola nas duas últimas semanas. Ela chegava até a porta da escola, começava a chorar e ia embora para casa.

Conversando com a mãe, descobri que eles estavam passando por um momento delicado financeiramente e que já não pagavam o aluguel da casa por um bom tempo. A dona do imóvel, depois de insistentes cobranças, certo dia, invadiu a casa, quebrou os móveis e agrediu fisicamente a mãe dessa aluna.

Isso causou um trauma muito grande e insegurança na menina que passou a ter problemas emocionais e não querer mais vir à escola com medo que alguma coisa pudesse acontecer em casa, enquanto sua mãe estivesse por lá.

Conversei com a aluna, falando para ela de forma calma e verdadeira, citando exemplos que acontecem à toda hora com muitas pessoas. Todos têm problemas pessoais e nem por isso deixam de estudar, trabalhar, etc.

Pedi para ela que tentasse ficar naquele dia e fosse fazendo as coisas com calma e se ela se sentisse mal viria falar comigo que eu ligava para a casa da mãe e a mãe viria buscar. Falei para ela fazer as coisas aos pouquinhos, que se no dia seguinte não se sentisse bem, não viria para a escola, mas que tentasse no dia seguinte de novo. Orientei que fosse ganhando confiança aos poucos até o momento que conseguisse voltar de vez. Exatamente como fiz no meu serviço. Falei para ela que, se eu consegui voltar a dar aulas e agora até virei coordenador, ela também conseguiria voltar e terminar não só a 5ª, mas todas as séries subseqüêntes.

Resultado: a aluna a partir de terça-feira não mais faltou na escola e está se sentindo melhor. Semana que vem vou tentar conversar com ela, se sobrar algum tempo, pois tenho andado atarefadíssimo.

Acredito que não é fácil fazer um trabalho quase que individualizado, enxergando dentro da alma de cada criança e tendo paciência e compreensão com elas, sobretudo por serem muitas (na minha escola são quase 300 alunos do fundamental II) e os problemas de toda a ordem. Porém, sei também que o exemplo que dei a ela, será repassado para outros coleguinhas e outras mães e que em "cadeia" poderá atingir indiretamente outros alunos que estejam com problemas emocionais semelhantes.

Na minha opinião, o ponto de partida é mesmo ser verdadeiro, ter calma ao falar com o aluno, respeito, compreensão e humildade. Outra coisa importante é rever o que foi feito antes em situações parecidas e perceber o que deu certo ou errado. Em alguns momentos, é vantajoso gastar um pouco do precioso tempo resolvendo uma questão como essa, pois se eu não fizesse isso agora, a coisa poderia se agravar e traria outros tipos de conseqüências.

As leituras que tenho feito durante esses quase dois meses de curso tem me ajudado muito. Aprender mais sobre educação, estudar, faz a gente refletir, repensar situações e ter posturas diferentes. Isso ajuda muito na busca do auto-conhecimento e corrige nosso comportamento durante a atuação profissional. Outra coisa que também acredito ser importante é participar dos fóruns aqui, falar as coisas que pensamos, sentimos, como agimos, pois no processo de relatar algo, estamos aprendendo e revendo conceitos também.

(Opinando 6): Realmente, é necessário muita sensibilidade e jogo de cintura. Sabe, esse é um exemplo dos diversos casos de problemas famíliares que a gente escuta todos os dias.

Mas tem o outro lado da moeda também. Existem muitos alunos danados, espertinhos, debochados e que precisam de limites muito bem impostos. Quando se juntam em sala de aula podem colocar a sala abaixo. Não é fácil não.

Agora, realmente, é muito bom quando a gente consegue chegar à alma da criança e descobrir que conseguimos realmente ajudá-la. Faz um bem muito maior do que se simplesmente eu a tivesse ignorado e continuasse fazendo alguma atividade burocrática.

06 junho 2009

A Criança não é um Adulto em Miniatura

De origem suíça, Jean Piaget estudou como ocorre o desenvolvimento cognitivo nas crianças. Através de observações e testes aplicados em escolas francesas, ele descobriu que as crianças possuem características próprias de perceber, compreender e se comportar diante do mundo, não podendo ser consideradas como adultos em miniatura. As crianças possuem uma lógica própria de funcionamento mental.

Segundo Piaget, as crianças aprendem de forma ativa, interagindo com o meio, num processo cognitivo de assimilação e acomodação que resultam na equilibração de novos conhecimentos. Assim, Piaget dividiu em quatro as etapas de desenvolvimento cognitivo das crianças: Sensório-Motora (do nascimento aos dois anos de idade); Pré-Operatória (dos dois aos sete anos de idade); Operatório-Concreta (dos sete aos doze anos) e Operatório-Formal (após os doze anos de idade).

Particularmente na etapa pré-operatória é quando surge a linguagem oral e é também quando as crianças passam a usar símbolos, imagens ou palavras que representam coisas e pessoas que não estão presentes em dado momento. Algumas das principais características desta etapa são: O pensamento egocêntrico, onde tudo o que a criança pensa é a partir de seu ponto de vista; o animismo, onde a criança atribui consciência aos fenômenos da vida; o finalismo, onde ela acredita que tudo tem uma finalidade; o artificialismo, a criança acredita que todas as coisas são produtos da fabricação humana, incluindo montanhas e rios; e pensamento dependente da percepção imediata, não tendo noção de conservação, ao se mudar a aparência de determinada coisa, a criança acredita que mudou também a quantidade, a massa, o volume e o peso.

Segundo Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, a criança, na etapa pré-operatória, passa a poder agir por simulação. Na falta do objeto concreto, ela pode fazer representações do mesmo através de interações mediadas por “imagens, lembranças, imitações diferidas, jogos simbólicos, evocações verbais, desenhos, dramatizações” . Por outro lado, as representações realizadas pelas crianças são feitas de forma analógica e justapostas. A criança nessa etapa percebe tudo globalmente e tem dificuldades em fazer analogias sem que se façam análises bem detalhadas das coisas. Macedo explica que “um dos principais objetivos da educação pré-escolar (que engloba a faixa dos dois aos três anos) deveria ser o de ensinar a criança a observar os fatos cuidadosamente, em especial quando estes são contrários aos previstos por ela” . Ele também nos chama a atenção para a necessidade de realização de atividades em duplas e em grupo, sempre desenvolvendo as habilidades de comunicação, onde as crianças possam brincar entre si, falar, discutir, resolver problemas práticos. Segundo o professor da USP, “agora não basta mais à criança realizar as ações, é preciso que ela fale delas para outrem, que as reconstitua por via narrativa e que aprenda a descrevê-las em palavras, quadros, desenhos” .

Dessa forma, Lino de Macedo nos propõem uma série de atividades que podem ser realizadas com crianças na faixa dos dois aos três anos de idade, ou seja, que fazem parte da etapa denominada pré-operatória, segundo as idéias de Piaget. É sempre importante que os professores da pré-escola conheçam as características próprias dessa etapa do desenvolvimento cognitivo das crianças e, assim, possam realizar um trabalho com maior competência. Entender a lógica do funcionamento mental de cada etapa de desenvolvimento das crianças permite ao profissional da educação evitar possíveis erros e adequar suas ações para que o processo de ensino-aprendizagem se realize de forma mais eficaz.

28 maio 2009

Quando se Ensina, também se Aprende

Através da leitura da "Carta de Paulo Freire aos professores - Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra " podemos compreender a importância que a leitura crítica de textos e a leitura crítica do mundo têm para o dia a dia de quem tem como ofício a arte de ensinar.

Para Paulo Freire, o ato de ensinar não se desvincula do ato de aprender. Quando ensinamos estamos revendo conceitos já aprendidos e, portanto, reavaliando e reaprendendo. No diálogo que traçamos com quem aprende também reaprendemos, pois perpassamos caminhos inesperados, perguntas surpreendentes e, muitas vezes, quando realmente nos aprofundamos, percorremos linhas de raciocínio diferentes da nossa, portanto abertas ao novo.

O ato de ensinar, como diz Paulo Freire, requer “uma analise crítica de sua prática”. Além disso, o ensinante precisa, antes de tudo, estar capacitado para ensinar e, para tanto, precisa estar sempre se atualizando, aprendendo, estudando. O ato de estudar implica em refazer a leitura de mundo e das palavras, reavaliarmos conceitos e visões de mundo e, conseqüentemente, enriquecer nossos conhecimentos acrescentando novas leituras de conceitos já estabelecidos.

Nesse contexto, Freire acredita que prática e teoria devem caminhar sempre juntas e nunca desvinculadas uma da outra. Através dos conhecimentos que já temos e daqueles sistematizados pelo homem podemos fazer um confronto com o novo, refletirmos e assim remodelá-los de forma crítica, trazendo à tona novos conhecimentos e descobertas.

Paulo Freire é contra a transferência mecânica de conhecimentos, cujos conteúdos ficam desvinculados da realidade do aprendiz. Para ele é necessário que o aprender se realize de forma critica, levando-se em consideração a linguagem simples (conceitos criados na cotidianidade do aprendiz) e a “linguagem difícil” (conceitos abstratos, já sistematizados). Ao juntarmos o contexto (linguagem simples ) com o texto (linguagem difícil) possibilitaremos uma compreensão mais exata do objeto que estamos estudando e de sua relação com outros objetos. Freire ressalta que essa compreensão do objeto estudado não vem como milagre, mas ela “é trabalhada, é forjada” num “trabalho paciente, desafiador, persistente”. Ou seja, aprender requer muito esforço por parte de quem aprende.

Outro aspecto importante levantado por Paulo Freire está no equívoco que cometemos ao dicotomizar o ato de ler e o ato de escrever. Para ele, ler e escrever são “processos que não se podem separar” e deveriam ser aprendidos dessa forma inseparável desde a alfabetização para que, já na pós-graduação, o ato de escrever não fosse um martírio para muitos estudantes que redigem suas monografias. Ainda segundo o estudioso da Educação, “isso lamentavelmente revela o quanto nos achamos longe de uma compreensão crítica do que é estudar e do que é ensinar”.

Como sempre, Paulo Freire nos abre perspectivas que, mesmo na nossa frente, muitas vezes não conseguimos enxergar. No ato de ensinar o professor está sempre aprendendo e é importante que esteja sempre se atualizando, estudando, lendo para poder refletir criticamente sobre suas ações educativas e assim poder melhorar seu fazer docente. É importante também, que estejamos sempre levando em consideração o conhecimento informal do aluno como forma de facilitar a assimilação do conhecimento formal e assim, fazendo sua leitura de mundo junto com a leitura da palavra possa ter uma visão crítica da realidade que o cerca.

17 maio 2009

Economia Solidária? Alternativa para o futuro?

No final do mês de abril tive a oportunidade de conversar com uma mestre em educação que, especificamente, fez sua dissertação de mestrado a respeito de gestão escolar e, particularmente, abordou, em certo momento, a forma que a escola onde trabalho é gerida.


Claro que fiquei com os neurônios literalmente queimando ao conversar com alguém como ela. Muito inteligente e culta. Mas certamente foi um momento de muita aprendizagem e prazer.

Em nossa conversa, acabamos entrando na questão do discurso utilizado por professores e gestores que serve como alavanca para o ensino e perspectiva de futuro para os estudantes. Ou seja: Por que estudar? Para que estudar? Que futuro nossos alunos esperam da vida?

A maioria de nós ainda utiliza como resposta o mesmo discurso: "É preciso estudar muito para ser alguém na vida. Somente com muito esforço e estudo você vai conseguir um bom emprego, ganhar bem e se destacar na sociedade. Somente estudando é que um dia você vai chegar lá."

Mas será que esse discurso de fato serve para todo mundo? Dá certo com todos? Existe igualdade de condições tanto para o aluno da escola pública, quanto para o aluno da escola particular? Um grupo de alunos de baixa renda terá as mesmas chances e perspectivas de um grupo de alunos de alta renda se os esforços forem exatamente iguais nos dois grupos? Ou leva vantagem quem tem o poder econômico e faz parte de uma elite que abre as portas para empregos, relacionamentos, tempo para dedicação aos estudos, entre outros?

O tema que mais me chamou a atenção e que acredito ser um dos mais importantes em Sociologia da Educação foi mesmo a "Sociologia Crítica". Enxergar o mundo através dessa visão não é fácil. Porém, somente entendendo de forma crítica a realidade é poderemos propor mudanças e decidirmos o que pretendemos manter.

Não estou com tudo isso falando que não sou a favor do esforço e dedicação aos estudos para conseguir uma projeção econômica-social. O que quero deixar claro é que este modelo funciona somente para uma pequena parcela da população. Não existe igualdade de condições. E o pior, usar esse discurso em uma escola para alunos de baixa renda pode ser entendido, em muitos momentos, como um discurso vazio. Pois sabemos que a maioria, de fato, não chegará lá.

Neste momento é preciso parar para refletir. Pensar sobre a nossa relação com o mundo/sociedade e o que de fato queremos para o nosso futuro. Quais os nossos valores? O que entendemos por felicidade e bem estar? E, assim, poderemos, quem sabe, encontrar um modelo alternativo.

Acredito que as respostas para todas essas questões, dentro da escola pública, passam sim por continuar se esforçando e se aprofundando nos estudos. Porém, o que muda é o foco. O objetivo, agora, talvez seja encontrar esse modelo alternativo, menos desigual, onde a violência e a pobreza sejam menores. Onde se possa ter uma qualidade de vida boa, se não for para todos, mas pelo menos para a grande maioria.

Conversando com aquela mestra consegui organizar algumas idéias que ainda estavam embaralhadas. Ainda não sei exatamente que caminho e que discurso deveriam ser seguidos. A professora de Sociologia do curso de Pedagogia sugeriu leituras a respeito da Economia Solidária que me parece uma alternativa muito interessante.

Apenas uma certeza parece estar clara: somente continuando os estudos e se aprofundando é que poderemos encontrar respostas para todas essas questões.



14 maio 2009

Planejamento e Avaliação


Introdução

Planejar pode ser definido como uma série de ações que fazemos previamente, no campo das idéias, com o intuito de atingir um determinado objetivo. Quando realizamos uma viagem, por exemplo, planejamos em que lugar gostaríamos de ir, que pontos turísticos queremos visitar, onde vamos nos hospedar, quantos dias ficaremos ali, quanto dinheiro iremos gastar e assim por diante. O planejamento deve ser feito sempre com o máximo de detalhes possível, porém, existe certo momento em que é necessário colocá-lo em prática. Como nos ensina Amyr Klink, conhecido velejador brasileiro das águas frias desse planeta, “existe um tempo para melhorar, para preparar e planejar; igualmente existe um tempo para partir para a ação” [1] .

Além de conter detalhes importantes das formas que iremos executar determinadas ações para atingir determinados objetivos, o planejamento deve também estar aberto aos imprevistos. Muitas vezes, situações que não prevíamos aparecem no nosso caminho e, por outro lado, descobrimos que nem tudo que foi planejado poderá ser executado. Vejamos a curiosa forma de planejar viagens à bordo de uma Kombi que o casal de descendentes de japoneses, Mitsuoki e Yurico Suwabe, conhecidos como Casal Kombi, tem a nos exemplificar: “Costumamos calcular a distância entre as cidades para saber onde vamos parar. O roteiro nunca é seguido à risca: se há, por exemplo, uma cachoeira no caminho e ela não estava nos planos, fazemos uma pausa” [2] .


Desenvolvimento do Tema e Opinião

Esses exemplos de viagens nos ajudam a elucidar a importância que o ato de planejar tem para a boa realização de determinada atividade. Assim, podemos estender o assunto para os meandros da educação, buscando compreender como se dá o planejamento na escola, a sua importância, suas formas e também a relação que o planejamento tem com o ato de avaliar resultados.

No artigo “Ensinar bem... É saber planejar” , aprendemos que na escola “o planejamento é a etapa mais importante do projeto pedagógico, porque é nela que as metas são articuladas às estratégias e ambas são ajustadas às possibilidades reais” [3]. Segundo esse mesmo artigo existem, nas escolas, três tipos de planejamento: o plano da escola, o plano de ensino e o plano de aula. O primeiro, mais geral, articula os objetivos da escola com o sistema educacional mais amplo, no que podemos denominar de Projeto Político Pedagógico. O plano de ensino, que pode ser anual, trimestral ou bimestral, conforme o regimento interno de cada escola, determina as ações que cada disciplina executará por um período mais longo dentro do contexto escolar. Já o plano de aula nos mostra o que será feito dia-a-dia em sala de aula.

José Mário Pires Azanha, em artigo de Denise Pellegrini, afirma que no planejamento avaliamos “quais são os principais problemas e o que é possível fazer para resolvê-los” [4]. Ou seja, é necessário que, ao fazer o planejamento com a equipe escolar, estejamos cientes dos problemas e dificuldades que aflige os alunos e comunidade do entorno da escola e assim possamos propor ações de forma a solucioná-los. Para Jamil Cury, citado no mesmo artigo, “ao propor ações que dêem respostas às necessidades e aos anseios da comunidade escolar, define-se o perfil, o jeito, a marca. Um trabalho capaz de atender às exigências de todos – respeitando, obviamente, as responsabilidades de cada um”.

Após o fim de um ano letivo e a execução dos planos idealizados, chega o momento de se avaliar os resultados, buscando entender o que deu certo ou não, quais os objetivos alcançados e o que precisa ser melhorado. A avaliação deve ser um ato tanto individual, em cada disciplina, mas, sobretudo, um ato coletivo. Portanto, o ato de planejar é também um ato de re-planejar, pois sempre leva - ou deveria levar - em conta situações que ocorreram anteriormente, experiências prévias. Dessa forma José Cerchi Fusari, professor da Universidade de São Paulo, explica que “a principal função do planejamento é construir, desestruturar e reconstruir o projeto político-pedagógico da escola” [5] .

Percebemos, portanto, que o planejamento é um processo dinâmico, que vai se alterando conforme o tempo e conforme as necessidades da comunidade escolar e do seu entorno. Nem tudo que é planejado é possível de ser executado e nem todas as metas são plenamente atingidas. Daí a necessidade de se avaliar o que foi feito e re-planejar as ações para o ano seguinte. Para Cipriano Carlos Luckesi, doutor em Filosofia da Educação, “a avaliação poderia ser compreendida como uma crítica de percurso de uma ação, seja ela curta, seja ela prolongada. Enquanto o planejamento dimensiona o que se vai construir, a avaliação subsidia essa construção, porque fundamenta novas decisões” [6] .

Outro aspecto importante da avaliação, dessa vez de ordem prática no percurso de ensino-aprendizagem, está centrado na idéia de que os alunos possuem ritmos diferentes de aprendizagem, enquanto alguns estão em estágios mais avançados, outros ainda precisam recuperar conteúdos e competências que ainda não alcançaram. Dessa forma, muitos estudiosos da educação nos alertam sobre o perigo de se avaliar nossos alunos de forma tradicional, dando notas boas para aqueles que foram bem nas provas e punindo aqueles que não conseguiram atingir médias razoáveis. Neste momento é necessário que o professor leve em consideração não apenas o quanto os alunos conseguem responder corretamente as questões de uma prova. O professor deve se questionar o “quanto” deve saber cada criança e isso depende de uma série de fatores, como nos mostra Paola Gentile: tudo isso depende “de sua história, dos conhecimentos prévios, da relação com o saber” [7] . Classificar alunos como “bons” ou “maus” conforme suas notas faz um estrago enorme para a auto-estima deles. Para Antoni Zabala, citado por Gentile, “o professor precisa selecionar conteúdos e atividades adequadas para cada turma, conforme suas necessidades particulares” . Deve estar sempre medindo o desempenho dos mesmos e aperfeiçoar as deficiências daquele grupo para, no fim do processo, avaliar de forma qualitativa a evolução daquele grupo e não apenas comparar o desempenho dele com outros ou com as metas, às vezes, arbitrarias e fechadas do plano de ensino. O importante não é que um grupo atinja todos os objetivos propostos em uma dada disciplina, mas sim que se perceba a sua melhoria de acordo com o que já sabiam previamente e assim incentivá-los a enfrentar desafios e comprometê-los com a sua melhoria particular. Nesta visão de processo de ensino-aprendizagem não é justo querer que todos consigam atingir as mesmas metas, que consigam aprender as mesmas competências e conteúdos, se partiram de momentos de aprendizagem diferentes. Alguns, mais adiantados conseguirão se sair melhor, outros ainda atrasados não terão o mesmo êxito. Daí a importância de se levar em consideração o ponto de partida de cada aluno.


Estudo de Caso

Para apresentar um modelo de planejamento, conforme proposição para a realização desta pesquisa, vamos considerar o Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Barnabé, onde o autor deste trabalho atua desde o ano de 2001 e centralizar a análise nos planos de ensino e avaliações que a professora de Inglês, desta mesma unidade escolar, realizou durante o ano de 2008 para a 5ª série do ensino fundamental.

É importante ressaltar que o Projeto Político Pedagógico da escola – que aqui consideramos como sendo o Plano da Escola, conforme classificação citada anteriormente - é norteado pela Prosposta Curricular desenvolvida pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo e que, por sua vez, é fundamentada na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) do governo federal.

A partir da proposta curricular do Estado de São Paulo, especifica da disciplina de inglês, e levando-se em consideração o Projeto Político Pedagógico da Escola Barnabé, foram montados os planos de ensino para cada um dos quatro bimestres da disciplina de Inglês para as quintas-séries da escola. Cada plano de ensino está dividido em cinco partes:

1. Objetivo: Competências e habilidades a serem desenvolvidas;
2. Conteúdos: Assuntos a serem trabalhados;
3. Procedimentos Metodológicos: Formas que os conteúdos serão executados para se atingir os objetivos;
4. Recursos Pedagógicos: Recursos utilizados durante as aulas;
5. Avaliação: Formas de avaliação para se analisar o desempenho dos alunos.

Ao analisar os planos de ensino bimestrais e as cadernetas de registro de classe da referida professora, podemos entender como funciona a dinâmica entre o que deve ser aprendido e como se leciona. Nos Planos de Ensino são colocados os objetivos a serem alcançados em determinado bimestre, que por sua vez são baseados no Caderno do professor – outro instrumento orientador das ações de aprendizagem na sala de aula, editado pelo governo estadual de São Paulo. Exemplificando, no primeiro bimestre, uma das competências a serem desenvolvidas nos alunos, constante do Plano de Ensino da professora, era a de “engajar-se em pequenos diálogos de trocas de cumprimentos e despedidas: formais e informais”. No dia 11 de março, a professora registrou na caderneta de classe, da 5ª série B, ter realizado a seguinte atividade: “Saudações de acordo com as partes do dia. Atividades orais e escritas”. No Caderno do Professor, a primeira Situação de Aprendizagem – plano de aula – intitulava-se: “Greetings and Leave-taking”, referindo-se exatamente aos cumprimentos e despedidas e mostrando as estratégias de ensino e os recursos necessários para os mesmo. Dentro do Projeto Político Pedagógico da Escola, intitulado de Proposta Pedagógica, encontramos a seguinte fala: “o professor, além da preparação do aluno, direta e intencionalmente, será um estimulador do processo de descobrimento da realidade, propiciando-lhe a construção do seu próprio conhecimento, estabelecendo relações com o já construído através dos tempos, pela sociedade”.

Podemos perceber assim, a existência de um diálogo importante no planejamento das atividades da disciplina de inglês para quinta série do ensino fundamental da Escola Estadual Barnabé, que engloba as diversas escalas desse processo de planejamento. Indo desde o Projeto Político Pedagógico que se articula aos Planos de Ensino e aos Planos de Aula e chegando às situações de aprendizagem aplicadas pela professora em sala de aula. Essa articulação parece conseguir bons resultados, pois no primeiro bimestre de 2008 houve apenas duas “notas vermelhas” – resultados negativos - em trinta alunos matriculados na turma de 5ª série B.

Analisando o Plano de Ensino do primeiro bimestre de Inglês, percebemos também que os procedimentos metodológicos, utilizados pela professora, deixam as aulas mais dinâmicas. Ao se observar suas aulas, confirmamos que a mesma faz uso, na prática, de tais procedimentos. São eles: práticas orais em grupo, leitura dirigida, diálogos e apresentação de vocabulário e funções comunicativas. Os procedimentos metodológicos propostos pela professora vão ao encontro das Estratégias de Ensino propostas no caderno do professor que incluem: jogos de sensibilização; práticas orais em grupo; leitura dirigida; música (opcional).

Em relação à avaliação, percebemos que existe uma consonância entre o que a professora executa e o que é proposto pelas diretrizes governamentais, bem como o que a professora prioriza nos Planos de Ensino. Observando a caderneta de classe, podemos perceber que em várias atividades, a professora fez uso de dinâmicas orais e escritas que resultaram em uma nota denominada de “desempenho” onde todos os alunos conseguiram obter “notas azuis”, ou seja, resultados positivos. Por sinal, esses “registros de participação dos alunos” contribuem para que se consiga ter uma visão geral e continua do desempenho individual de cada aluno. Outro detalhe que vale ressaltar foi que a professora, ao longo do bimestre, retomou os assuntos abordados naquela primeira situação de aprendizagem, através de atividades diversificadas: ora trabalhando com folhas de atividade para “preencher balões”, ora através de “atividades orais usando o vocabulário e a estrutura frásica já aprendida”. Comprovando, assim, que a avaliação/recuperação continua é uma forma eficaz de se obter bons resultados com os alunos, vide o bom desempenho em suas notas finais.


Conclusões

O planejamento é um instrumento importante para guiar as ações da equipe escolar durante o ano letivo. Com ele podemos determinar os objetivos que queremos atingir, assim como as formas que iremos utilizar para alcançar esses objetivos. Todo planejamento deve levar em consideração os anseios de alunos e comunidade do entorno da escola e deve estar articulado ao Sistema de Ensino ao qual a escola faz parte.

O ato de planejar é também um ato de avaliar. Quando planejamos, levamos em consideração conhecimentos prévios, coisas que deram certo ou errado em anos anteriores e, portanto, que devem ser revistos na aplicação do ano corrente. Esses pressupostos se estendem também para o ritmo de cada disciplina em cada bimestre do ano letivo. É necessário que o professor esteja sempre avaliando a aprendizagem dos alunos, suas dificuldades e, assim propor mudanças de ações se os resultados não estiverem sendo satisfatórios.

Ao analisar os planos de ensino e as ações, em sala de aula, de uma professora em particular, foi possível entender como se articula o planejamento e o processo de ensino-aprendizagem em uma sala de aula.

No caso específico estudado, pode-se perceber que o processo de ensino-aprendizagem realizado por uma professora de inglês em uma escola da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, garantiu bons resultados de aprendizagem a seus alunos, graças à dinâmica realizada pela professora no cotidiano da sala de aula. Os “registros de desempenho dos alunos”, realizados por essa professora, durante o período de todo um bimestre comprovam a importância de se acompanhar todo o processo do desenvolvimento de aprendizagem dos alunos. Pois, possibilita verificar a defasagem que possa estar acontecendo com alguns deles. Por outro lado, a revisão de conteúdos com aplicações de atividades diversificadas nos mostrou que os alunos aprendem melhor, uma vez que o desempenho dos mesmos foi considerado bom.

Assim sendo, os processos de planejar e avaliar devem ser constantes e estar presentes em todas as instâncias de uma escola, desde o Projeto Político Pedagógico até o dia a dia da sala de aula. Somente com o planejamento, muita reflexão e avaliações críticas é que poderemos melhorar a qualidade de ensino das escolas.

[1] Gestão de Sonhos: riscos e oportunidades: Entrevista de Amyr Klink a Sérgio Almeida. Salvador, BA: Casa da Qualidade, 2000. pg 15.

[2] Se essa Kombi falasse. Revista Viagem e Turismo. Edição 93. Editora Abril, julho de 2003. Disponível em: http://www.geocities.com/casalkombi . Seção Imprensa. Acesso em 09/05/2009.

[3] http://novaescola.abril.com.br

[4] Que escola queremos? Denise Pellegrini. http://novaescola.abril.com.br/index.htm?ed/158_dez02/html/proposta_pedagogica.

[5] Idem.

[6] Planejamento e Avaliação na Escola: articulação e necessária determinação ideológica. Disponível na Plataforma do Curso de Pedagogia da Unimes Virtual.

[7] Avaliar para crescer. Texto disponível na Plataforma do Curso de Pedagogia da Unimes Virtual.

[8] Idem.

26 abril 2009

Educação Formal e Conhecimento Popular

Acredito que a escola e a comunidade se relacionam através da educação formal e do conhecimento popular. Na escola, de forma geral, aprendemos, através das diversas disciplinas, os conteúdos com base científica. Por outro lado, os alunos trazem através de suas vivências um rico conhecimento do dia a dia, o que chamo aqui de conhecimento popular.



Quando um professor consegue conciliar a bagagem cultural que o aluno trás de casa com o conhecimento formal representado pelo conteúdo de sua disciplina, transformando informação em conhecimento, acredito que a relação entre a escola e a comunidade é verdadeiramente produtiva. As vivências cotidianas são enriquecidas pelo conhecimento científico e este passa a dar sustentação para aquelas.


O conhecimento da Sociologia tem uma grande importância no dia a dia do professor, pois nos ajuda a entender a diversidade humana e a forma como nos relacionamos com a sociedade e com o meio em que vivemos. Refletindo e conhecendo esta relação, poderemos propor e incorporar mudanças para tornar o convívio em sociedade mais saudável.


A educação é fundamental não somente para adquirirmos mais conhecimento, mas para que possamos contribuir na construção de um ambiente e uma sociedade mais agradável para se viver. Conhecendo como fomos e entendendo como somos, poderemos ajudar na construção de uma sociedade mais feliz.

23 abril 2009

Tecnologias Digitais e Educação

Outro dia eu estava pensando: como as novas tecnologias digitais atraem a atenção da molecada. Eles são experts em usar aparelhos de MP3, celulares com Bluetooth, jogos digitais, internet, MSN, blogs, orkut e assim por diante.

O interessante é perceber que aprendem essas coisas com muita facilidade. Porém, o que mais impressiona mesmo é ver que muitas vezes aprendem de forma autônoma, pesquisam, vão atras das informações, querem se apronfundar, aprendem de forma não linear, além disso, ensinam uns aos outros, ou seja multiplicam conhecimento.

Falando objetivamente, para essas tecnologias digitais, de uma forma geral, eles são os estudantes que pedimos a Deus: autônomos, concetrados, interessados, esforçados, sempre ampliando seus limites.

Por que será que não fazem isso nas aulas de história, geografia, matemática, ciências etc.?

Acredito que existe uma série de atividades que podem ser conduzidas aliando tecnologias digitais e conteúdos das disciplinas: Montar vídeos com comerciais, entrevistas; Apresentações em power point; Exposições fotográficas analógicas e digitais; Montagem de sites com determinado assunto; Jogos interativos; Criação de blogs; Uso de paródias. Enfim, existe sim uma infinidade de processos educativos que podem aliar o interesse pelas tecnologias digitais dos alunos e os conteúdos curridulares.

O professor, em primeiro lugar, precisa conhecer um pouco dessas tecnologias. Não digo necessariamente saber montar um blog na internet, por exemplo, mas deve saber o que é um blog e suas potencialidades. Deve ter noções de vídeo, de fotografia, de internet etc. Tendo essa base do conhecimento, ele poderá orientar os alunos no uso dessas tecnologias, ajudando-os a sistematizar as informações dos conteúdos de sua disciplina.

Acredito que, a partir de então, existe um mundo de opções pela frente, onde os alunos poderão transformar informações em conhecimento, assimilar conceitos, trabalhar habilidades e competências. Hoje em dia, as tecnologias digitas são essenciais no processo de ensino-aprendizagem.

20 abril 2009

Emília Ferreiro: Educação e Mudanças

Emilia Ferreiro pode ser considerada uma revolucionária da alfabetização. Psicolingüista de origem argentina vem estudando o processo de aquisição da leitura e da escrita. Há cerca de vinte anos, causou polêmica ao explicar como as crianças aprendem, propondo a substituição das cartilhas pela utilização de textos variados, como livros, revistas, jornais, calendários e agendas.


Estudiosa dos sistemas e das tecnologias de escrita, Ferreiro acredita que o significado de saber ler e escrever muda conforme o tempo e as transformações na sociedade. Desde a Grécia clássica até os dias de hoje o seu significado vem se modificando, pois o que se espera do leitor são determinados socialmente. Atualmente, com o advento da internet muitas coisas mudaram. Segundo a pesquisadora, “o trabalho na internet exige rapidez na leitura e muita seletividade, porque não se pode ler tudo o que está na tela”.


Além disso, com a globalização, ela acredita que, ao mesmo tempo em que a cultura global tende para uma homogeneização atrelada sobretudo à utilização da língua inglesa, existe também o movimento inverso, pois as pessoas manifestam o desejo de manter a sua cultura, a sua identidade. Por outro lado, outra questão é posta, as crianças e adolescentes aprendem com muito mais facilidade essa nova tecnologia e hoje ensinam muitos professores a melhor maneira de utilizá-las. Para Ferreiro, atualmente “a possibilidade de uma relação educativa realmente dialógica é fantástica”.


Sobre a educação no Brasil, Ferreiro acredita que houve transformações, sobretudo àquelas ligadas à montagem de turmas homogêneas, uma antiga obsessão das escolas brasileiras. Para ela é preciso entender que os estudantes mudam constantemente e que uma turma agora homogênea pode estar completamente diferente em pouco tempo. É necessário levar em conta os ritmos individuais e as etapas de desenvolvimento de cada criança. Particularmente na alfabetização, os ritmos individuais permitem que se classifiquem as crianças como pré-silábicas, silábicas e alfabéticas. Este enfoque possibilita a visualização do progresso individual na aprendizagem de cada uma. Segundo a psicolinguista, “a idéia de que eu, adulto, determino a idade com que alguém vai aprender a escrever é parte da onipotência do sistema escolar que decide em que dia e a que horas algo vai começar. Isso não existe. As crianças têm o mau costume de não pedir permissão para começar a aprender”.


As idéias propostas por Emilia Ferreiro realmente vieram mudar e continuam mudando a forma de pensar a educação e a alfabetização de nossas crianças. Os enfoques dados por ela nos provam que o processo de ensino-aprendizagem é dinâmico, muda conforme o tempo e conforme as necessidades das sociedades. Novas descobertas apareceram e com certeza outras aparecerão graças aos pesquisadores da educação e ao desenvolvimento tecnológico. No Brasil de 1985, quem poderia afirmar que as cartilhas eram modelos fracos de alfabetização? E por outro lado, naquela mesma época quem iria dizer que futuramente um bate papo ou troca de cartas poderiam acontecer de forma virtual? É necessário estarmos sempre revendo nossos conceitos sobre educação e, muitas vezes, aprendendo tudo de novo.

11 abril 2009

Refletindo sobre a Desigualdade Social

Às vezes fugimos de um lugar, mas acabamos encontrando as mesmas respostas em lugares diferentes.