29 agosto 2010

O poder da mídia na infância de hoje

Para a realização desta pesquisa/atividade, estarei me baseando no artigo “Descortinando o conceito de infância na História: do passado a contemporaneidade” escrito por Sandro da Silva Cordeiro e Maria das Graças Pinto Coelho, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Particularmente, escolhi este artigo por dois motivos básicos. O primeiro, devido a sua forma direta e didática em abordar o assunto dividindo em dois momentos principais “Falando sobre a Infância de ontem...” e “A infância de hoje: espaço de inúmeras acepções”. O segundo motivo deve-se à sua visão bem atual da infância ligada à mídia e ao mundo do consumo, que acaba esclarecendo muitas questões que já foram desenvolvidas ao longo do fórum pelos meus colegas de curso.

Procurei selecionar apenas os itens mais importantes e mesmo assim acabou ficando um pouco longo, visto que o próprio artigo chegava a quase dez páginas.


A Infância de Ontem

“É bem verdade que a infância sempre existiu desde os primórdios da humanidade, mas a sua percepção enquanto construção e categoria social, dotada de uma representação é sentida a partir dos séculos XVII e XVIII (...).

Recorrendo-se a definição da palavra infância, oriunda do latim infantia, significa “incapacidade de falar”. Considerava-se que a criança, antes dos 7 anos de idade, não teria condições de falar, de expressar seus pensamentos, seus sentimentos. Desde a sua gênese, a palavra infância carrega consigo o estigma da incapacidade, da incompletude perante os mais experientes, relegando-lhes uma condição
subalterna diante dos membros adultos. Era um ser anônimo, sem um espaço determinado socialmente (...).

Ao serem representadas, principalmente através de pinturas, geralmente aparecia numa versão miniatura do adulto (...). Até este período, seguindo uma forma de organização social da família tradicional, a fase da “infância” tinha uma curta duração, restringindo-se apenas a sua etapa de fragilidade física. Ao adquirir uma certa independência, era imediatamente conduzida ao convívio adulto, compartilhando de seus trabalhos e jogos, sem estar plenamente preparada física e psicologicamente para tanto (...).

Com o estabelecimento de uma nova ordem social, em fins do século XVII, são notadas algumas mudanças consideráveis alterando a estrutura até então em vigência. Com isso, sentiu-se a necessidade da criação de escolas, (...), a fim de
dominarem a leitura, a escrita e a aritmética, como mais um dos artifícios de preparação para a vida adulta. A escola passou a substituir a aprendizagem obtida empiricamente pela observação dos mais experientes, deixando de aprender a vida diretamente. O advento da escola moderna está atrelado ao surgimento de um
novo sentimento do adulto para com as crianças, implicando em cuidados especiais (...).

Com o apogeu da Revolução Industrial, ocorrido entre os séculos XVIII e XIX, foi direcionado um novo olhar sobre a infância. Estas passaram a ser vista como tendo um valor econômico a ser explorado. A urgência por mão-de-obra provoca o não cumprimento dos direitos infantis de acesso à escola, levando as crianças novamente ao mercado de trabalho, submetidas às explorações em nome dos ditames econômicos (...).

Delimitamos entre os anos de 1850 a 1950 como o momento do ápice da infância tradicional. Com o desenvolvimento das ciências humanas (...), as crianças passaram a ser retiradas das fábricas e novamente inseridas em contextos promotores
de aprendizagens sistematizadas (...). Com a consolidação do protótipo de família em fins do século XIX, a responsabilidade dos genitores passou a assegurar mais responsabilidades com o bem-estar das crianças, garantindo os direitos
que lhes assistem e maiores cuidados físicos. A noção de infância, agora, passa pelo crivo dos conceitos técnicos e científicos (...).


A infância de hoje

Segundo estudos realizados por Pfromm Netto, as crianças têm interesse pela televisão a partir dos seis meses de vida, passando a assistir com maior regularidade a programação por volta dos dois ou três anos de idade (...). Quando uma criança inicia o seu processo formativo na escola, leva consigo uma bagagem de conhecimentos inestimável, adquirida através das várias horas passadas em frente ao televisor (...). A escola, muitas vezes, despreza esses conhecimentos prévios, trabalhando com informações totalmente descontextualizadas dessa realidade. Isso provoca um distanciamento entre as práticas educativas e as vivências infantis concentrando, em parte, a aversão dos alunos à escola (...).

Além disso, convém ressaltar um outro agravante, uma característica tipicamente desenvolvida pela sociedade contemporânea: a individualização dos sujeitos. Aprisionados pelas suas rotinas profissionais, os pais acabam enclausurando as crianças em casa, de modo a permanecerem sozinhas. A televisão, estruturada com seus poderosos apelos comerciais, acabam invadindo a vida das crianças e se
agregando na própria constituição, ditando valores, regras, modismos, formas de encarar e atuar no mundo. Todo esse movimento é desenrolado e incorporado, sem a devida filtragem, pois as crianças não dispõem do contato com pessoas mais experientes (...).

Nesta perspectiva, (...) a infância deixa de ser uma fase natural da vida humana sendo, agora, um artefato construído, autorizado e ditado pela mídia. Esta, por sua vez, recria esta imagem da criança livre, protegida, feliz, deturpando e camuflando a verdadeira face da realidade. O que temos, na verdade, não passa de um simulacro da infância (...).

A criança contemporânea amadurece precocemente, dada as estimulações ofertadas no meio circundante. De notável inteligência e criatividade, precisam ser ouvidas e consideradas como parte integrante da sociedade. Mesmo tendo adquirido uma certa independência desde cedo, é inestimável o apoio, a proteção e o contato do adulto, auxiliando-a nas suas escolhas, na constituição dos princípios e valores baseados na justiça e na solidariedade, proporcionando a construção de um olhar crítico frente o
mundo que nos envolve (...).

Desse modo, cabe ao educador compreender a trajetória de desenvolvimento do conceito de infância e as suas atuais determinações em nossos dias, que encontra suas influências nos elementos da cultura e nos aportes midiáticos. Essa medida auxilia no oferecimento de uma educação imbuída de criticidade e capaz de trazer às crianças todas as oportunidades disponíveis para o seu crescimento, seja
físico, social e intelectual. Somente assim, estaremos preparando nossas crianças para viverem esses novos tempos que se anunciam, carregados de novas necessidades, novas aspirações, novos desejos e novos desafios (...)”.


Minha Opinião

Já foi muito bem debatida a questão da infância de ontem neste fórum. Os diversos textos pesquisados pelos meus colegas de curso revelam o que também encontrei no artigo que estudei. Antigamente a criança era vista como um adulto em miniatura e logo que possível era conduzida ao convívio adulto, inclusive no mundo do trabalho. Perdendo assim, a sua “real” infância.

Na pesquisa que realizei, os autores Cordeiro e Coelho estudaram a influencia da mídia e da sociedade de consumo na vida das crianças atualmente e descobriram que hoje a criança é produto da mídia. A falta de tempo dos pais para educar seus filhos, acabou criando crianças com valores, regras, modismos e formas de ver a vida ditadas pela televisão.

As crianças já chegam à escola com uma bagagem enorme de conhecimentos obtidos através da televisão. A escola não consegue competir com esta mídia e acaba se tornando desinteressante. As crianças chegam à escola como mini-consumidores.

É preciso rever conceitos, é preciso rever a forma com grande influencia da mídia que nossas crianças estão sendo criadas. É necessário desenvolver uma criança mais crítica que não aceite apenas a visão da televisão. Esse trabalho é muito difícil, pois nossos jovens não querem mais refletir e pensar. Eles querem as coisas já prontas, como se tudo viesse embalado para consumo e com um toque no botão liga/desliga as coisas passassem a funcionar.

Aprender requer concentração, (muito) tempo de estudo para leituras, discussões e realização de atividades e exercícios e isso não se faz apenas com o toque de um botão, nem se pode comprar num shopping ou supermercado. Muitas de nossas crianças só querem o que é dinâmico e de consumo rápido e nem tudo é assim. É preciso rever nossas formas de criá-los para que percebam que existe também um tempo mais lento, um tempo de reflexão, de dedicação aos estudos, o tempo para a aprendizagem nem sempre é dinâmico e exige paciência. Porém, o mundo moderno parece ter aversão à paciência, o que tem feito nossos jovens ficarem doentes quando buscam o refugio no mundo das drogas.

Professores e educadores sabem da existência e necessidade desse tempo mais lendo para a aprendizagem e reflexão e tentam colocá-lo em pratica nas salas de aula nas situações de aprendizagem. Porém, esta prática parece tão distante da realidade da criança de hoje e o conflito se torna inevitável, sobretudo, quando esta criança passa a ter voz ativa e poder de decidir diante de pais que não conseguem mais impor limites.

Este é certamente um dos grandes dilemas do mundo atual: como conciliar tempos tão dispares? Como conciliar o mundo tecnológico e dinâmico com o mundo da paciência e da concentração? Sabemos que a concepção de infância hoje é diferente da de antigamente, assim sendo, as crianças devem se adaptar à escola ou a escola que deve se adaptar á realidade de infância que temos hoje?


Fonte: http://www.faced.ufu.br/colubhe06/anais/arquivos/76SandroSilvaCordeiro_MariaPintoCoelho.pdf