26 março 2011

O Caminho a Seguir...

Nestes dois últimos dias, fugi um pouco da minha rotina na escola Barnabé. Fiquei, em parte do meu tempo de permanência na escola, no Laboratório de Ciências entregando os livros didáticos para os pais dos alunos das oitavas séries do período da manhã. É interessante esses momentos que fazemos algo diferente do que estamos acostumados a fazer. A gente observa coisas que até então não tínhamos parado para prestar atenção ou nos concentramos em entendê-las um pouquinho melhor. Conversei com alguns pais. Foi muito interessante, pois as informações vieram complementar minhas percepções destes três anos que estou no cargo de Professor Coordenador Pedagógico desta Unidade Escolar.


Para quem leciona ou trabalha na Escola Barnabé de Santos, sobretudo para os alunos do ensino fundamental, é normal saber que a primeira coisa que se faz necessário é impor limites, combinar regras e coibir a indisciplina. Temos alunos extremamente carentes, eles chegam às dezenas todos os anos. São alunos das mais diversas origens e que vivem, em alguns casos, à margem da inclusão social. Alguns moram em áreas de risco do tráfico de drogas, outros convivem com a prostituição. Muitos moram em quartinhos de cortiços, seis ou sete pessoas partilhando poucos metros quadrados. Outros tantos habitam casas em situações precárias nos morros. Junto a estes alunos, uma parcela possui boas condições de vida, tem celulares sofisticados e se vestem com roupas compradas em shoppings.


Conversando com algumas mães, fiquei contente em perceber que existe, agora, uma geração delas, que se preocupa e MUITO em acompanhar o rendimento de seus filhos na escola. Não apenas na questão disciplinar, mas também na aprendizagem. Mães preocupadas com a resolução das lições de casa e na elaboração dos trabalhos escolares de seus filhos. Ainda são poucas, mas esta parcela de mães está nitidamente aumentando.


Outra coisa que me chamou a atenção é o fato de alguns alunos virem de longe estudar no Barnabé, muitos que moram na cidade vizinha, São Vicente, estão matriculados em nossa escola. Inclusive um caso que me chamou muito a atenção, vem da Vila Margarida que fica quase na divisa entre São Vicente e Praia Grande, coisa não muito comum no Ensino Fundamental, mas que já estão aparecendo em maior número.


Fico contente em perceber que uma escola localizada no Centro Histórico de Santos, próximo aos morros e aos cortiços atraia tantos alunos de longe. Muitas famílias estão preocupadas hoje em dia com a a boa convivência na escola, com a existência de regras de conduta, buscando uma participação mais pacífica entre os alunos. Felizmente, a Escola Barnabé tem oferecido um pouco de tudo isto. A escola não é perfeita. Mas professores, funcionários e equipe gestora tem feito um bom trabalho neste sentido.


Uma das mães que atendi, que trouxe seu filho transferido de outra escola , elogiou muito o fato dos alunos fazerem fila na hora da entrada, de cantarem o hino e de existir o chamado mapa de sala de aula. São coisas ditas antiquadas por parte de alguns pesquisadores da área da Educação, mas que se fazem necessárias em escolas onde muitos alunos chegam sem limites e sem bases educacionais para a boa convivência entre seus pares. Se existe na última década interesse e investimentos do governo estadual para a popularização/massificação do ensino básico e se muitos dos alunos que antigamente não estariam freqüentando os bancos escolares, hoje o estão, isto significa que alguns métodos ditos tradicionais ainda precisam ser utilizados, pois tais alunos ainda precisam aprender a seguir regras e respeitar hierarquias.


Fico contente em saber que mesmo diante das inúmeras dificuldades do dia a dia, nossa escola continua sendo muito procurada, existem listas de espera e muitas mães confiam a guarda de seus filhos nas mãos de nossos profissionais. Sinal que, mesmo com nossos tropeços, normal em qualquer instituição, estamos realizando um trabalho que agrada muitos pais e responsáveis. Claro que ainda precisamos de muito investimento: capacitação de professores, equipe técnica e funcionários; contratação de mais profissionais; investimentos em algumas instalações como o laboratório de informática; melhorar o rendimento dos alunos com dificuldade de aprendizagem. De qualquer forma, existe um trabalho sério que vem sendo feito há mais de vinte anos e que se consolida no dia a dia da rotina escolar. Existe um caminho a seguir e objetivos traçados, coisas muito importantes para qualquer instituição que se leve à sério.