06 junho 2009

A Criança não é um Adulto em Miniatura

De origem suíça, Jean Piaget estudou como ocorre o desenvolvimento cognitivo nas crianças. Através de observações e testes aplicados em escolas francesas, ele descobriu que as crianças possuem características próprias de perceber, compreender e se comportar diante do mundo, não podendo ser consideradas como adultos em miniatura. As crianças possuem uma lógica própria de funcionamento mental.

Segundo Piaget, as crianças aprendem de forma ativa, interagindo com o meio, num processo cognitivo de assimilação e acomodação que resultam na equilibração de novos conhecimentos. Assim, Piaget dividiu em quatro as etapas de desenvolvimento cognitivo das crianças: Sensório-Motora (do nascimento aos dois anos de idade); Pré-Operatória (dos dois aos sete anos de idade); Operatório-Concreta (dos sete aos doze anos) e Operatório-Formal (após os doze anos de idade).

Particularmente na etapa pré-operatória é quando surge a linguagem oral e é também quando as crianças passam a usar símbolos, imagens ou palavras que representam coisas e pessoas que não estão presentes em dado momento. Algumas das principais características desta etapa são: O pensamento egocêntrico, onde tudo o que a criança pensa é a partir de seu ponto de vista; o animismo, onde a criança atribui consciência aos fenômenos da vida; o finalismo, onde ela acredita que tudo tem uma finalidade; o artificialismo, a criança acredita que todas as coisas são produtos da fabricação humana, incluindo montanhas e rios; e pensamento dependente da percepção imediata, não tendo noção de conservação, ao se mudar a aparência de determinada coisa, a criança acredita que mudou também a quantidade, a massa, o volume e o peso.

Segundo Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, a criança, na etapa pré-operatória, passa a poder agir por simulação. Na falta do objeto concreto, ela pode fazer representações do mesmo através de interações mediadas por “imagens, lembranças, imitações diferidas, jogos simbólicos, evocações verbais, desenhos, dramatizações” . Por outro lado, as representações realizadas pelas crianças são feitas de forma analógica e justapostas. A criança nessa etapa percebe tudo globalmente e tem dificuldades em fazer analogias sem que se façam análises bem detalhadas das coisas. Macedo explica que “um dos principais objetivos da educação pré-escolar (que engloba a faixa dos dois aos três anos) deveria ser o de ensinar a criança a observar os fatos cuidadosamente, em especial quando estes são contrários aos previstos por ela” . Ele também nos chama a atenção para a necessidade de realização de atividades em duplas e em grupo, sempre desenvolvendo as habilidades de comunicação, onde as crianças possam brincar entre si, falar, discutir, resolver problemas práticos. Segundo o professor da USP, “agora não basta mais à criança realizar as ações, é preciso que ela fale delas para outrem, que as reconstitua por via narrativa e que aprenda a descrevê-las em palavras, quadros, desenhos” .

Dessa forma, Lino de Macedo nos propõem uma série de atividades que podem ser realizadas com crianças na faixa dos dois aos três anos de idade, ou seja, que fazem parte da etapa denominada pré-operatória, segundo as idéias de Piaget. É sempre importante que os professores da pré-escola conheçam as características próprias dessa etapa do desenvolvimento cognitivo das crianças e, assim, possam realizar um trabalho com maior competência. Entender a lógica do funcionamento mental de cada etapa de desenvolvimento das crianças permite ao profissional da educação evitar possíveis erros e adequar suas ações para que o processo de ensino-aprendizagem se realize de forma mais eficaz.

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