07 junho 2009

Reflexões à partir de Maria Montessori

(Atividade) " A professora não pode só ensinar . Ela deve saber ver dentro da alma , para ajudar a criança no seu desenvolvimento . Ela deve formar a personalidade, não só pelo ensino, mas falando à sua alma ,ao seu espírito , à sua inteligência , com compreensão ,humildade e respeito. Esta compreensão não pode sair senão de um espírito eleito ,refinado , que saiba aprofundar os problemas da humanidade. " (Maria Montessori - Revista Memória da pedagogia- n.3)


Maria Montessori revolucionou a educação no mundo , trazendo um outro olhar para a criança. Também o papel do educador muda , pois ela o vê como uma referência, um modelo na educação da criança, o que exige dele uma auto-análise constante de sua atuação em sala de aula. Como você acha que seria possível fazer esse exercício diário ,levando em conta os prazos, horários e pressões da vida moderna? Como o professor pode buscar esse auto-conhecimento , tão importante para sua formação ?


(Opinando 1): Na minha opinião "amar a sua profissão" é um processo construído ao longo do tempo. Confesso que inicialmente eu não gostava muito de lecionar, lidar com crianças e adolescentes. Hoje, quando percebo alguns resultados positivos que foram sendo conquistados ao longo do tempo, vejo o quão prazerosa é a nossa profissão. Quanto mais vamos atuando, mais vamos sentindo o gostinho bom de gostar de educar, mais seguros vamos ficando, melhor vamos direcionando nossas ações e, conseqüêntemente, nossa auto-estima se eleva e, assim, passamos a amar o que fazemos.

(Opinando 2): Precisamos sempre abrir um espaço em nossas aulas para essa troca de afeto e experiências, corrigir posturas e orientar sobre boas maneiras. Acredito que, com a experiência, esta forma de agir se torna praticamente parte da aula.

Porém, em casos extremos, podemos parar completamente o assunto que estivermos trabalhando e dialogar sobre questões como indisciplina, problemas familiares, financeiros, entre outros. Nem sempre o conteúdo da aula é o mais importante em dado momento e abrindo esses espaços para discussão poderemos ganhar a confiança dos alunos que passarão a ser mais participativos.

Afinal, em tese, o aluno precisa confiar "cegamente" que o conteúdo que estamos passando é verdadeiro. Se tivermos de antemão a confiança dele, meio caminho estará andando.

(Opinando 3): Sabe que certa vez participei de uma atividade com vários coordenadores pedagógicos, sendo que em meu grupo ficou uma coordenadora que já trabalhava há anos com crianças excepcionais.

A atividade consistia em identificarmos uma criança em cada escola, que trazia algum problema grave, sobretudo de indisciplina e procurar caracterizá-la, sobre seus medos, seus anseios, suas necessidades. Ao comparamos as respostas sobre as crianças "normais" com as excepcionais, percebemos que as respostas eram sempre muito parecidas: os mesmos medos, os mesmos anseios, as mesmas necessidades. O que variava era a forma de cada uma demonstrar cada uma dessas características.

Fiquei surpreso com o resultado final. Nosso grupo concluiu que definitivamente somos todos iguais. Temos perspectivas e medos semelhantes. Talves apenas mude o ritmo de cada um. O ritmo cognitivo e de amadurecimento emocional podem ser desigual, porém, como seres humanos, percebemos que crianças excepcionais se igualando a todas as outras. Afinal, todos somos seres humanos.

(Opinando 4): Eu particularmente, penso da seguinte forma. Não é fácil cuidar da educação dessas crianças que chegam extremamente "chucras" em nossas mãos. E queiramos ou não a realidade é essa. Sobra para a gente educar mesmo. A gente pode cruzar os braços e reclamar, apontar os defeitos. Ou então, arregaçarmos as mangas e irmos em frente, ou seja, enfrentarmos o desafio de educar esses meninos e meninas que chegam até a gente todos os anos tão desamparadas, tão sofridas e tão rudes.

Não é fácil não. A briga é feia. Muitas vezes, nos casos extremos, temos que ser autoritários mesmo. Darmos broncas, sermões, "chacoalhar" essa molecada. Transformar água em vinho, literalmente. Depois do tratamento de "choque" é que podemos trabalhar a parte cognitiva, de entendimento sobre o que é educação.

Não sei como vocês costumam enfrentar tudo isso. Sei que é muito difícil. É uma luta inglória, mas que a médio e longo prazo dão resultados sim. Pois, com o tempo, você consegue se aproximar deles e, finalmente, chegar à sua alma. Entender os problemas e buscar minimizá-los.

Agora, definitivamente, muitos pais não estão nem aí mesmo. Sobra para a gente mesmo. Já escutei a seguinte fala: "Esses pais são todos uns folgados, eles não dão jeito em seus filhos e querem que a gente dê".

E vou ser sincero, em muitos casos a gente até consegue. Mas é uma luta muito difícil. Em outros momentos, a gente percebe que não tem jeito mesmo e deixa que a própria vida vai se encarregar do futuro deles.

(Opinando 5): Gostaria de responder essa atividade relatando um caso que aconteceu essa semana comigo.

A mãe de uma aluna de 5ª série (6º ano) veio conversar comigo preocupada com a filha que esteve faltando na escola nas duas últimas semanas. Ela chegava até a porta da escola, começava a chorar e ia embora para casa.

Conversando com a mãe, descobri que eles estavam passando por um momento delicado financeiramente e que já não pagavam o aluguel da casa por um bom tempo. A dona do imóvel, depois de insistentes cobranças, certo dia, invadiu a casa, quebrou os móveis e agrediu fisicamente a mãe dessa aluna.

Isso causou um trauma muito grande e insegurança na menina que passou a ter problemas emocionais e não querer mais vir à escola com medo que alguma coisa pudesse acontecer em casa, enquanto sua mãe estivesse por lá.

Conversei com a aluna, falando para ela de forma calma e verdadeira, citando exemplos que acontecem à toda hora com muitas pessoas. Todos têm problemas pessoais e nem por isso deixam de estudar, trabalhar, etc.

Pedi para ela que tentasse ficar naquele dia e fosse fazendo as coisas com calma e se ela se sentisse mal viria falar comigo que eu ligava para a casa da mãe e a mãe viria buscar. Falei para ela fazer as coisas aos pouquinhos, que se no dia seguinte não se sentisse bem, não viria para a escola, mas que tentasse no dia seguinte de novo. Orientei que fosse ganhando confiança aos poucos até o momento que conseguisse voltar de vez. Exatamente como fiz no meu serviço. Falei para ela que, se eu consegui voltar a dar aulas e agora até virei coordenador, ela também conseguiria voltar e terminar não só a 5ª, mas todas as séries subseqüêntes.

Resultado: a aluna a partir de terça-feira não mais faltou na escola e está se sentindo melhor. Semana que vem vou tentar conversar com ela, se sobrar algum tempo, pois tenho andado atarefadíssimo.

Acredito que não é fácil fazer um trabalho quase que individualizado, enxergando dentro da alma de cada criança e tendo paciência e compreensão com elas, sobretudo por serem muitas (na minha escola são quase 300 alunos do fundamental II) e os problemas de toda a ordem. Porém, sei também que o exemplo que dei a ela, será repassado para outros coleguinhas e outras mães e que em "cadeia" poderá atingir indiretamente outros alunos que estejam com problemas emocionais semelhantes.

Na minha opinião, o ponto de partida é mesmo ser verdadeiro, ter calma ao falar com o aluno, respeito, compreensão e humildade. Outra coisa importante é rever o que foi feito antes em situações parecidas e perceber o que deu certo ou errado. Em alguns momentos, é vantajoso gastar um pouco do precioso tempo resolvendo uma questão como essa, pois se eu não fizesse isso agora, a coisa poderia se agravar e traria outros tipos de conseqüências.

As leituras que tenho feito durante esses quase dois meses de curso tem me ajudado muito. Aprender mais sobre educação, estudar, faz a gente refletir, repensar situações e ter posturas diferentes. Isso ajuda muito na busca do auto-conhecimento e corrige nosso comportamento durante a atuação profissional. Outra coisa que também acredito ser importante é participar dos fóruns aqui, falar as coisas que pensamos, sentimos, como agimos, pois no processo de relatar algo, estamos aprendendo e revendo conceitos também.

(Opinando 6): Realmente, é necessário muita sensibilidade e jogo de cintura. Sabe, esse é um exemplo dos diversos casos de problemas famíliares que a gente escuta todos os dias.

Mas tem o outro lado da moeda também. Existem muitos alunos danados, espertinhos, debochados e que precisam de limites muito bem impostos. Quando se juntam em sala de aula podem colocar a sala abaixo. Não é fácil não.

Agora, realmente, é muito bom quando a gente consegue chegar à alma da criança e descobrir que conseguimos realmente ajudá-la. Faz um bem muito maior do que se simplesmente eu a tivesse ignorado e continuasse fazendo alguma atividade burocrática.

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