08 abril 2009

Práticas Pedagógicas e Realidade Social

Há alguns anos, trabalhando com o tema da cultura indígena, propus a um grupo de alunos da 5ª série que fizesse uma pequena pesquisa. Eles deveriam perguntar, em casa, qual o local de nascimento, profissão e a ascendência de seus pais e avós, anotando tudo no caderno.

A proposição da atividade foi extremamente formal e na semana seguinte poucos trouxeram as respostas. Fiquei decepcionado uma vez que se tratava de uma coisa simples de se fazer. Porém, senti que os alunos não queriam expor seu passado e sua vida familiar. A grande maioria era descendente de negros, indígenas e nordestinos e carregava o peso do preconceito em seu dia-a-dia. Conversei com a turma a respeito desta questão, buscando mostrar a importância que todas as culturas possuem para a formação do povo brasileiro. Procurei levantar a auto-estima de cada um e mostrar que não é vergonha ser descendente de uma ou de outra “raça” (1).

(1) Morin vê a sala de aula como um fenômeno complexo que abriga uma diversidade de ânimos, culturas, classes sociais e econômicas, sentimentos... Um espaço heterogêneo e, por isso, o lugar ideal para iniciar essa reforma da mentalidade que ele prega. Cristiane MARANGON, Eduardo LIMA. Os novos pensadores da educação.HTTP://revistaescola.abril.com.br. Acesso em 23/02/2009.

Quase ao final da aula, uma aluna trouxe uma foto de sua família para eu ver. Havia a mistura de negros e índios, todos nascidos no nordeste em um clima gostoso de festa. A foto despertou tanto interesse nos outros alunos, que propus, dessa vez, que fizessem um trabalho escrito, onde responderiam as questões da atividade inicial, porém, que colocassem fotos de seus parentes. Solicitei também que fizessem pesquisas em jornais e revistas, que conversassem com parentes e vizinhos, sempre buscando encontrar o lado positivo que cada “grupo racial” possui (2). Eles deveriam fazer um relato de todas as informações que conseguissem e me entregar.

(2) O ato de educar, a ação educativa, transcende às ações dos professores e extrapola os limites físicos da sala de aula. Jorge Carlos Felz FERREIRA. Reflexões sobre o ser professor: a construção de um professor intelectual, p. 3.

Na semana seguinte houve uma profusão de trabalhos. Cada um trouxe um pouquinho de si e de sua família. Estavam ansiosos para contar o que conseguiram descobrir. Muitos relataram a presença de índios e afro-descendentes em seu meio familiar. Alguns encontraram reportagens que valorizavam a cultura quilombola e de tribos indígenas.

Confesso que foi uma atividade que me marcou muito e passou a ser um norteador de caminhos a serem percorridos durante a minha prática docente. Passei a diversificar o formato de minhas aulas, aproximar-me mais dos alunos, trabalhar com a questão da valorização da identidade de cada um. Por outro lado, percebi o quanto é importante a busca de informações através de meios diversificados: família, vizinhos, jornais, televisão, entre outros. Todos nós aprendemos que a educação não formal complementa a educação formal. Os alunos passaram a ser mais participativos, mesmo porque, eu também passei a ser mais receptivo em aulas mais dialogadas (3).

(3) Segundo Donald Schön, citado por Isabel Alarcão, quem age em situações instáveis e indeterminadas, como é o caso de quem leciona, tem de ter muita flexibilidade e um saber fazer inteligente, uma mistura disso tudo. A experiência conta muito, mas tem de ser amadurecida. Denise Pellegrini. Refletir na prática. http://revistaescola.abril.com.br Acesso em 23/02/2009.

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