20 abril 2009

Emília Ferreiro: Educação e Mudanças

Emilia Ferreiro pode ser considerada uma revolucionária da alfabetização. Psicolingüista de origem argentina vem estudando o processo de aquisição da leitura e da escrita. Há cerca de vinte anos, causou polêmica ao explicar como as crianças aprendem, propondo a substituição das cartilhas pela utilização de textos variados, como livros, revistas, jornais, calendários e agendas.


Estudiosa dos sistemas e das tecnologias de escrita, Ferreiro acredita que o significado de saber ler e escrever muda conforme o tempo e as transformações na sociedade. Desde a Grécia clássica até os dias de hoje o seu significado vem se modificando, pois o que se espera do leitor são determinados socialmente. Atualmente, com o advento da internet muitas coisas mudaram. Segundo a pesquisadora, “o trabalho na internet exige rapidez na leitura e muita seletividade, porque não se pode ler tudo o que está na tela”.


Além disso, com a globalização, ela acredita que, ao mesmo tempo em que a cultura global tende para uma homogeneização atrelada sobretudo à utilização da língua inglesa, existe também o movimento inverso, pois as pessoas manifestam o desejo de manter a sua cultura, a sua identidade. Por outro lado, outra questão é posta, as crianças e adolescentes aprendem com muito mais facilidade essa nova tecnologia e hoje ensinam muitos professores a melhor maneira de utilizá-las. Para Ferreiro, atualmente “a possibilidade de uma relação educativa realmente dialógica é fantástica”.


Sobre a educação no Brasil, Ferreiro acredita que houve transformações, sobretudo àquelas ligadas à montagem de turmas homogêneas, uma antiga obsessão das escolas brasileiras. Para ela é preciso entender que os estudantes mudam constantemente e que uma turma agora homogênea pode estar completamente diferente em pouco tempo. É necessário levar em conta os ritmos individuais e as etapas de desenvolvimento de cada criança. Particularmente na alfabetização, os ritmos individuais permitem que se classifiquem as crianças como pré-silábicas, silábicas e alfabéticas. Este enfoque possibilita a visualização do progresso individual na aprendizagem de cada uma. Segundo a psicolinguista, “a idéia de que eu, adulto, determino a idade com que alguém vai aprender a escrever é parte da onipotência do sistema escolar que decide em que dia e a que horas algo vai começar. Isso não existe. As crianças têm o mau costume de não pedir permissão para começar a aprender”.


As idéias propostas por Emilia Ferreiro realmente vieram mudar e continuam mudando a forma de pensar a educação e a alfabetização de nossas crianças. Os enfoques dados por ela nos provam que o processo de ensino-aprendizagem é dinâmico, muda conforme o tempo e conforme as necessidades das sociedades. Novas descobertas apareceram e com certeza outras aparecerão graças aos pesquisadores da educação e ao desenvolvimento tecnológico. No Brasil de 1985, quem poderia afirmar que as cartilhas eram modelos fracos de alfabetização? E por outro lado, naquela mesma época quem iria dizer que futuramente um bate papo ou troca de cartas poderiam acontecer de forma virtual? É necessário estarmos sempre revendo nossos conceitos sobre educação e, muitas vezes, aprendendo tudo de novo.

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